Diferenciado. Esse adjetivo é apenas um dos vários que podem definir Marabu. Em 2019, antes mesmo de fazer sua estreia com ‘Fundamento” no ano seguinte, o funkeiro paulista chamou minha atenção pelas ideias que compartilhou no painel “Música em Zonas de Conflitos”, da SIM São Paulo. Na ocasião, ele passou a visão sobre o ‘clareamento do funk brasileiro” que estava acontecendo naquele momento.
“A gente vê muitos artistas ganhando dinheiro, muita gente produzindo coisas internacionalmente…. hoje é nítido que o funk é a bola da vez […] E ao mesmo tempo que isso acontece, o estado vai matar pessoas que ouvem funk na quebrada” […] assim, “você destrói pilares da cultura […] e enquanto o estado promove esse tipo de processo (de apagamento), que teve início lá no começo da década e agora no fim da década novamente, quando o funk está em voga, quando as pessoas da quebrada, as pessoas pretas, estão tomando conta do funk de novo, esse processo volta a acontecer”.
De fato, de lá pra cá, o funk ascendeu ainda mais no mercado, virando produto de exportação. Porém, isso não quer dizer que a segregação e as perseguições acabaram. Mesmo assim, como sempre, ele resiste com vozes, personalidades e características distintas. Representante do gênero em São Paulo, que possui uma estética diferente do feito no Rio de Janeiro, Marabu também flerta com o rap – e isso pode ser que o próprio não considere, porém, não tem como desassociá-lo. Traz a essência e a vivência da favela, que não têm sido tão contemplada pela maioria dos MC ‘s de ambos os lados.
Sem dar muita visibilidade à ostentação e deixando as citações de marcas em segundo plano, Marabu faz críticas à indústria da música, dominada por gravadoras internacionais, distribuidoras e agências, compartilha situações cotidianas, que aqueles e aquelas que moram nas quebradas do Brasil – mas principalmente nas de SP – vão pegar rapidamente, desenrola ideias sobre o amor e os corres. “rua escura”, com participação do Ôbigo, é uma das que reflete a realidade das ruas.
“Só pra quem gosta / liberdade, adrenalina, nunca acredito em tudo / nunca duvido de nada / amor em São Paulo? só se não for madrugada”, diz um dos versos.
Outras que seguem na mesma linha são “santana 2000” e “praia de santa rita”. Mas esses temas se intercalam com outros. Naquele pique de romance, “lua cheia céu azul (olha lá)” entrega tudo. A cadência se aproxima de uma balada, que também caberia num pagode.
A forma que Marabu interpreta cada som é o que o diferencia de fato. Ele não segue um único fluxo. Muda de timbre, cria personagens e foge do convencional. “Onlyblackhands (interlúdio)” dá uma pequena amostra dessa facilidade que ele tem para interpretar, em alguns momentos na calmaria e nas outras mais acelerado. O complemento vem com as produções carregadas do Levi Keniata, que deixa os tambores leves, mas não menos potentes (uma identidade do selo Nebulosa). É denso, mas também frenético. É de “malokeiro” para “malokeiros” e “malokeiras”.