Michael Render é um viciado em rap, que ao longo da vida teve seu caráter e consciência lapidados pelos sons da comunidade que o criou em Atlanta, dos serviços religiosos dominicais às conversas de barbearia. Os detalhes da vida dele são contados por Killer Mike, o próprio Render, no autobiográfico MICHAEL.
A expectativa pelo primeiro álbum solo de Mike desde o matador “R.A.P.”, de 2012, só cresceu depois que ele apresentou uma série perfeita de singles, incluindo “RUN”, “TALK’N that SHIT!”, “DON’T LET THE DEVIL”, “MOTHERLESS” e “SCIENTISTS & ENGINEERS”, que traz de volta à cena Andre 3000 – também na lista de produtores. Com o terceiro e o quarto, ele fez um curta-metragem em homenagem à sua falecida mãe, Niecy. Ambos sinalizaram que o que estava por vir seguiria para um caminho diferente do que estava acostumado andar, principalmente no Run The Jewels.
Para isso, teve que vasculhar lembranças na casa de sua mãe, onde descobre um baseado entre os pertences dela, o que desencadeia uma onda de memórias, principalmente das festas realizadas ali. Essas memórias são reproduzidas nos vídeos dirigidos por Davi Peña e Shane Smith, respectivamente.
“El-P me ouviu falar sobre essas festas boêmias e artísticas que minha mãe costumava dar quando eu era criança”, diz Mike. “Eu ouvia tudo lá – foi onde ouvi Grandmaster Flash, Kurtis Blow e Whodini pela primeira vez. Então, quando estávamos tentando descobrir como deveria ser o vídeo de ‘DON’T LET THE DEVIL’, Jamie (El-P) voltou com esse tratamento escrito e eu chorei no final. O que é ainda mais louco é que ele também não sabia o que estávamos fazendo para ‘MOTHERLESS’, mas essa é a mágica, eu acho”.
Esta última, faz um tributo sombrio ao impacto que a morte da mãe teve ao seu redor, culminando em uma recriação do momento em que Mike cantou a frase “my Momma dead” no estúdio de gravação, percebendo depois que era a primeira vez que ele disse essas palavras em voz alta.
“Quando toquei ‘Dion’ pela primeira vez, ele disse duas coisas – uma das quais era que eu estava essencialmente escondendo algo e essa era a música. Foi a última feita para o álbum porque eu não tinha pronunciado essas palavras em voz alta desde sua partida”, observa. “Quando eu conto a história da minha mãe está incluso o momento que eu a encontrei tentando tirar a própria vida. Ela sobreviveu, foi diagnosticada como bipolar e deprimida; ela lutou contra isso até o dia em que morreu. Ela viveu uma vida maravilhosamente rica e fora da lei e tenho a honra de mostrá-la como a linda fodona ela era. Estes não são vídeos tristes ou elogiosos. É uma celebração de uma BAD ASS BLACK GIRL do lado oeste de Atlanta. Ela foi carinhosamente chamada de OG Mama Niecy por muitas pessoas que ela ajudou a permanecer em seu caminho.”
Somente nessas duas músicas, Killer Mike consegue envolver o ouvinte. Porém, tem mais 12 que complementam essa jornada. As produções são assinadas por No ID, que imprime a sua identidade característica com um toque do rap do sul dos EUA, Corey Mo, Cool & Dre, James Blake. Algumas recebem a participação de Cee-lo Green, Future, Young Thug, Ty Dolla $ign, Curren$y, os já citados Andre 3000 e EL-P, 6LACK, Blxst e Eryn Allen Kane.
MICHAEL é sério, denso. Serve como uma introdução holística da pessoa por trás do artista, que não tem medo de expor suas dores, problemas, força e fragilidades.
