Foi na Nigéria que o camaronês Télesphore Nkono, o Nkono Teles, fez suas primeiras incursões musicais tocando na banda de ninguém menos que Tony Allen, parceiro de Fela Kuti e um dos pais do afrobeat. Tecladista, logo migrou para a produção, tornando-se um dos profissionais africanos mais procurados da sua época.
Na vontade de ir além do tradicional, fez inovações. Por isso, ao lado de William Onyeabor e Jake Sollo, é considerado um dos pioneiros a usar sintetizadores e baterias eletrônicas na África Ocidental dos anos 1980.
Juntando texturas sonoras, Teles criou uma espécie de boogie-funk combinando batidas sincopadas com guitarras e diferentes sintetizadores, que naquele período eram novidades (Roland Prophet 5, Roland Jupiter 8). Esse estilo único e original marcaram presença em álbuns dos icônicos Steve Monite, Dizzy K, Peter Abdul, Odion Iruoje, Steve Black, Rick Asikpo, Feladey, Charly Boy, Majek Fashek e Sonny Okosuns.
Com três discos solos editados apenas em vinil (Fiesta Dancin, Party Beats e Afro Music Party), e fora oficialmente dos streamings (é possível ouvi-los em canais diversos no Youtube), o multi-instrumentista ficou por um tempo no anonimato. Lembrado por Tyler The Creatorem “I THINK, que sampleou “Get Down” (do disco Afro Music Party), Teles ganha agora uma seleção da Soundway com 6 músicas do seu catálogo, incluindo “Love Got Hold On Me”, um instrumental que escreveu, gravou e produziu para o cantor Jane Coleman em seu único álbum de 1987.
Já na abertura de “Love Vibration”, ele mostra sua genialidade nos sintetizadores na frenética “Martin Street Special”. Assim que começa, ele leva o ouvinte para uma viagem quase lisérgica, fazendo que o corpo se mexa instintivamente. O mesmo acontece com as que vem na sequência, sempre fazendo fusões espaciais de afro-funk, disco e synth-wave.
Falecido em 2011, Nkono Teles entrou no limbo nos anos 1990 quando retornou a Camarões, depois que a pirataria, mudanças na indústria musical e a política de Lagos, maior cidade da Nigéria, dificultaram o trabalho de artistas estrangeiros. Apesar de continuar produzindo no seu país, França e Reino Unido até o início dos anos 2000, o nível de inovação e o reconhecimento não foi o mesmo que o consagrou nas décadas anteriores.
Sem obviedades, “Love Vibration” (disponível no stream a partir de 26 de março) é uma ótima forma de celebrar a vida e obra de um dos grandes nomes da música africana.
