“Tudo o que eu faço, busco fazer diferente. Aquariano, nascido no dia 10 de fevereiro, tenho essas necessidades de soar diferente de tudo o que está sendo feito”. VANDAL é literalmente DEVERDADEH. Não titubeia ao dizer o que precisa.
Essa honestidade no uso das palavras, fica ainda mais evidente nas 3 músicas do EP “PUXUTRIUH”. A que o nomeia reafirma uma posição de linha de frente que o baiano tem no drrill brasileiro, mas nem sempre recebe o devido conhecimento.
“De onde a gente vem tem sempre que estar reafirmando coisas, tem que estar batendo na mesma tecla. Infelizmente, é um processo de luta”, diz ele ao RAPresentando. “Quando eu falo de pioneirismo eu nem me coloco como suprassumo de nada, até porque o pioneirismo não me deu nada. Eu não enriqueci sendo pioneiro. Isso não me contempla financeiramente, nem com os olhares e os acessos que eu deveria ter. O eixo Rio-São Paulo jamais vai enaltecer um nordestino de forma genuína. Eles aceitam os nordestinos que têm números, acessos e possibilidades de fazer uma troca com eles”.
Mais que certificar que foi o primeiro a explorar estilos antes deles se tornarem populares no rap, VANDAL quer enaltecer os nordestinos, sua cultura, o movimento e o povo. “Vem para realmente fincar essa bandeira, não de pioneirismo como soberba, mas de alguém que se entregou culturalmente com pesquisa, com força, que guerreou, que lutou”, ressalta. “Eu me lembro que quando ia cantar drill no Rio e São Paulo, e riam de mim, falavam mal das minhas roupas, da forma de eu rimar, do sotaque, do instrumental”.
Categórico, o MC afirma não se preocupar com a possibilidade desses sons serem considerados uma afronta contra o que a indústria estabeleceu no trap, grime e drill depois de observarem uma grande oportunidade de fazer dinheiro.
Abrir mão de compartilhar do que acredita para agradar terceiros não é algo que negocia, mesmo que gere algum tipo de descontentamento. Agradar terceiros ou ser visto como alguém importante não é mais uma de suas prioridades.
“Que soe como insulto. Eu nunca fui aceito pelo rap nacional, eu nunca ganhei nada. Sempre fui escanteado para fora de tudo. Sempre se comportaram como se eu fosse de outro continente, de outro país. Sempre me inviabilizaram em detrimento de outros artistas um tanto quanto caricatos, genéricos, cosplayers de bandidos. Eles sempre tentaram criar esses falsos ícones. Eu vou continuar afirmando, sei da minha história, da minha luta”.
SÍMBOLOS
A agressividade e a incisão, que o levava a fazer ações mais enérgicas, quando grafitava (assinando como Sidoka Vandal) foram transferidas para a música. A arte das ruas serviu de referência para que ele criasse uma forma própria de interpretação. O graffiti também o inspirou a criar uma grafia própria, sempre usando caixa alta e inserindo o H.
Para alguns pode soar estranho, porém, como a originalidade faz parte da sua essência, essa foi uma forma que encontrou para se diferenciar.
“Esse tipo de escrita vem dessa necessidade de me comportar dentro dessa rede que é a internet. Eu observava as cenas de trens, e eu via como no Leste Europeu aconteciam as coisas, pelo fato da minha mãe trabalhar numa empresa de turismo e trazer revistas européias para casa. Eu fui me apaixonando por aquele tipo de escrita da Rússia, Ucrânia, Romênia. Então, porque não ter um tipo de escrita semelhante a isso. E o H vem de uma gíria aqui de Salvador, que é tipo assim: eu não como H, não vou comer o seu caô, a sua mentira. Dessa forma eu me diferencio dentro da rede”.
Outra particularidade é a ligação dele com as assinaturas e os números. Ter apenas 3 faixas no projeto não foi por acaso. O numeral é o que o rapper considera ser a geometria sagrada, o delta da vida. “São faixas que se contemplam, faixas que dialogam. PUXAOTRIOH foi muito natural porque uma faixa se conecta com a outra, e não foi intencional. Eu precisava dar esse presente para a cidade, para as pessoas. E colocando este lançamento no dia do meu aniversário é estar celebrando essa sobrevivência”.
Os próximos passos de VANDAL DEVERDADEH é colocar no mundo o que produziu durante a pandemia. Ainda não sabe qual será a ordem do que virá primeiro, mas já tem singles, participações, EPs e o seu primeiro álbum oficial para serem apresentados. O principal foco dele agora é voltar a fazer shows, para sentir novamente o calor do público.
“Eu me formei nos palcos, nas festas de lago, no soundsystem. Não sou artista de internet, que nasceu nos computadores. Nasci na rua. Mas também quero entregar o máximo de projetos possíveis para o povo”.