Nos anos 1980, a música pop estava efervescente. Era hit atrás de hit, que não paravam de tocar nas rádios. Nas FMs, os ouvintes se atualizavam do que estava bombando nas pistas – e vice-versa. Nessa década, Prince, Michael Jackson, Madonna, Marvin Gaye, Whitney Houston, Tyna Turner, The Police, Talking Heads, Lionel Richie e Rick James (só para citar alguns) dominavam as paradas.
É nos sons eletrônicos e sintetizados desse período que The Weeknd se inspirou para fazer “Dawn FM”. O objetivo dele é levar a experiência de uma rádio FM para a audição do álbum. Por esse motivo, ouvir na sequência planejada é essencial para entender a proposta (no aleatório fica sem sentido).
Nas 16 faixas, que mesclam canções, vinhetas, locução de Jim Carrey, com um tom de voz de locutor da madrugada, e o depoimento de Quincy Jones (ele fala sobre sua experiencia de ter crescido sem a presença materna, e como isso afetou na criação dos seus filhos. Há uma conexão dessa fala com a letra de “Sacrifice”), é possível observar a referência de diferentes texturas oitentistas, que ganharam uma identidade própria com a inserção das características do cantor.
Os responsáveis por criar essa “experiência sonora” são os produtores da Swedish House Mafia, Max Martin e Oneohtrix Point Never, que assina a co-produção e algumas composições. A estética dançante da escola sueca de produção, que ganhou força mundial com a explosão do Abba no nos 70 e 80, também se faz presente nos mais de 51 minutos do disco, assim como o conhecido estilo sombrio de Weeknd expurgando os seus demônios e os temas sexualmente explícitos, sempre presentes nas letras dele.
Os rappers Tyler, The Creator e Lil Wayne também colaboram. A participação do último em “I Heard You’re Married” traz um desequilibro na segunda parte da música, pela cadência da rima destoar do restante. Talvez Wayne caberia numa sonoridade mais dark, como em “Starry Eyes”.
Assim como nos trabalhos anteriores, os visuais tem roteiros que se conectam (a mesma estratégia usada por Michael Jackson). Neste, as narrativas estão ainda mais amarradas. Mostra também o compromisso que Abel tem com sua arte, que cada vez fica mais intrigante e um passo a frente do seu tempo. Ele te faz dançar ao mesmo tempo que trata de problemas.
