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Tássia Reis: “Em tempos de escassez, a gente tem que falar de prosperidade”

Na entrevista, Tássia fala detalhes do álbum “Próspera D+”, o retorno dos shows, inspirações, parcerias, composições e planos para o futuro.

Tássia Reis estava em plena mudança de Jacareí para São Paulo. Por quase 1 ano e 3 meses, ela voltou a cidade natal para ficar um tempo com a família. Com a volta progressiva dos shows, a cantora, compositora, dançarina, estilista e MC retornou à capital paulista para facilitar a locomoção.

Ainda organizando as coisas na nova residência e se adaptando com os barulhos dos aviões que passam pela região, Tássia aparece no Zoom toda sorridente. Durante uma hora (quase no apagar das luzes de 2021) conversamos sobre os detalhes do álbum “Próspera D+”, o retorno dos shows, inspirações, parcerias e composições.

“[…] quando eu fui escrever a música Shonda, eu tava muito brava, muito brava mesmo. Estava entre dar uma porrada em alguém ou escrever uma música [risadas]. Aí escrevi uma música, porque não sou de brigar. O que aconteceu parecia mesmo um roteiro da Shonda, e eu tenho uma grande amiga (que é a Ellen), que fala que acontece tanta coisa no dia dela, que o roteiro parece ter sido escrito pela Shonda… eu fiquei com isso na cabeça, e escrevi: parece um roteiro de Shonda, mas esse não vai pra televisão”.

 

 

Como está sendo essa volta aos shows depois de quase dois anos?

 

Nossa. O primeiro show foi muito emocionante… eu sou uma pessoa que gosta dos vários processos de fazer música, sabe!? Eu gosto do momento da composição, que é muito íntimo pra mim. Gosto do estúdio, que é quando você começa a compartilhar as ideias que tem com outras pessoas. E também gosto muito do palco. Teve períodos da pandemia que eu ficava toda noite muito triste, olhando imagens dos shows que eu fiz, dos festivais no Brasil e fora (quanta coisa maneira). Ao mesmo tempo que eu fiquei feliz de ter construído uma caminhada massa com shows, também ficava me perguntando [faz tom de desespero]: “aí, será que eu vou viver isso de novo”. Achava que nunca mais iria fazer show na vida. E aí quando finalmente fiz meus primeiros dois shows (em outubro no Sesc), eu fiquei tão emocionada, principalmente no primeiro dia. Estava com a banda completa, e a gente fez uma abertura apoteótica (exemplifica: “dam, dam, dam, dam, dam”)… aí cantei Ouça-me toda bravona, mas quando acabou e fui falar boa noite, a voz embargou e não conseguia falar. Chorei muito, uns três minutos de um choro muito honesto. Acho que ali eu dei conta do tamanho da falta, do quão importante pra mim é estar no palco trocando com a minha banda e com as pessoas que estão ali. Mesmo que todos estavam de máscara e com distanciamento, foi tão especial que eu chorei de verdade. Parece que eu estou começando a fazer show de novo pela primeira vez, de estar ali no palco redescobrindo essa energia. Acho que as pessoas também estão com essa energia de retorno, apesar da pandemia não ter acabado ainda. Está sendo uma experiência muito incrível.

 

Os shows pararam justamente quando você estava fazendo várias apresentações e começando a rodar o “Próspera”. Parar bruscamente foi triste, né!?

 

Acho que foi mais que triste. Foi chocante mesmo, né!? Não só pelo fato do disco (é claro que eu fiquei triste), mas foi algo que mexeu com a nossa cabeça. O mundo inteiro parou, e a gente nunca tinha vivido isso, globalmente falando. Pra mim foi muito chocante por causa da agenda que a gente tinha com coisas incríveis pra fazer, muito foda, tá ligado!? O lockdown veio na semana que a íamos viajar para o Texas, para fazer o SXSW, sendo que a gente já estava numa caminhada do outro ano (2019) que também não conseguimos ir porque não quiseram liberar o visto para os meus músicos. Depois conseguimos, mas já estava em cima da hora. Então, deixamos para ir em 2020. Aí, veio a pandemia… agora é questão de honra fazer esse festival em algum momento [risadas]. Fora isso, tinha show fechado em Nova York, no Canadá, uma mini-tour na Europa, ia tocar num festival em Moçambique, fora as datas no Brasil com alguns shows especiais. A gente ia fazer mais jazz… aí tudo isso foi frustrado. Mas pela dimensão da coisa, eu coloquei em primeiro lugar entender o que estava acontecendo, porque não era sobre mim nem sobre minha banda, é um bagulho coletivo. Tanto que nos primeiros meses eu não fiquei pilhada de ter que produzir, criar… apesar de eu ser uma pessoa super workaholic. Eu fiquei mais na minha pra entender o que estava acontecendo, porque na hora não entendi.

 

Foi um choque, porque estava todo mundo se movimentando e de repente todo mundo teve que ficar em casa. O pior era não saber por quanto tempo isso ia durar. Ninguém fazia ideia que seria esse tempo todo.

 

Não ter perspectiva de futuro é uma coisa que me deixa muito mal, porque sou uma pessoa que pensa no futuro. Eu me organizo para o futuro, ainda que seja em curto prazo, tipo: “daqui a 6 meses a gente vai fazer tal coisa, daqui um ano ou dois anos”. Não saber o que ia acontecer no próximo mês, mexeu muito com a minha cabeça (de verdade), me tirou o chão… eu preciso enxergar perspectiva, ainda que seja utópica. Aí, eu me vi num momento sem perspectiva nenhuma, eu não tinha esperança. A esperança era a vacina e o Bolsonaro não estava a fim. Então, foi um momento bem difícil… depois eu comecei me apegar na música de novo, e ficou um pouco menos difícil, mas não resolveu o problema. A música me fez companhia nesse período.

 

 “Eu só consegui me sentir livre com o meu cabelo quando saí da escola com 17 anos”.

 

Por conta dessa falta de perspectiva, você decidiu compor para fazer “Próspera D+” ou ele já estava nos seus planos?

 

Não estava no meu radar. Lançar um remix ou outro, beleza… tanto que o de “Dollar Euro” saiu antes, em 2020, muito pela proposta da EVEHIVE, que é uma produtora incrível e me convenceu, porque eu sou muito chata com remix. Tem gente que me pede o acappella de “No Seu Radinho” até hoje e eu nunca dei [risos]… e não vou dar (tô brincando, não sei, quem sabe no aniversário do EP que vai fazer 10 anos em 2024). Não estava nos planos, mas fiquei pensando no que eu podia fazer, tipo lançar um EP. E aí, eu fui surpreendida pelos meus fãs, porque estava pensando em fazer coisas novas. Então, fui perguntar no Instagram e no Twitter o que a galera achava, e para minha surpresa 75% das pessoas que responderam (que são os meus fãs mais próximos) pediram pra continuar com “Próspera”. E assim, eu já fiz bastante coisa para o disco, só que ele é grande, tem 16 faixas (contando os interlúdios). É bem grande e diverso, por isso dava pra trabalhar muito mais faixas. A gente fez clipe de “Ansiejazz”, “Pode Me Perdoar”, “Dollar Euro”, “Me Diga”, “Inspira, Try”… tinha 5 videoclipes. Porra, sou independente, tá ligado!? Então, já era coisa pra caramba, só que tinha coisa sem visual. Outros sons que a galera queria ver e não deu pra conectar. Pirei com o remix que a EVEHIVE fez, porque falei: “não tem como você deixar essa música tão legal quanto ou mais”! Mas ela conseguiu fazer isso e mudou minha percepção de: “se eu escolher produtores que eu gosto e que tenha a mesma linha de pensamento, vai ser interessante”. O lance também era entender que a música já é a música, tá ligado!? O que vim depois é outra coisa. A original vai estar ali pra sempre.

Com isso, eu fiquei maquinando como fazer coisa nova e continuar trabalhando “Próspera” de alguma forma, o conceito pelo menos… e conseguir trazer as faixas de 2019 para o show. Aí, misturou a vontade de viver, que reacendeu dentro do meu coração, da minha alma. Por isso, ele é um disco mais pra cima. Pega o conceito de buscar equilíbrio, de buscar a prosperidade… é como se a gente tivesse na guerra. Em tempos de guerra se fala muito de amor. É sempre o oposto, né!? Então, em tempos de escassez a gente tem que falar de prosperidade. Tem que buscar e caminhar em prol disso. Pra mim, “Próspera D+” veio com esse peso, muito pelos fãs, muito pela insistência da EVE, e da minha vontade de fazer o novo. Juntando tudo isso, tem música original, tem remix, tem faixa que foi revisitada mesmo, porque a gente mudou a harmonia. Por conta disso tive que gravar de novo, e as inéditas, tipo: “Bêbada de Feriado”, que eu escrevi 1 ano atrás e nunca tinha lançado oficialmente. “Me Beije”, que eu tinha escrito para entrar no anterior, mas no fim não coloquei porque achei que não estava linkando ali, e guardei. E “Dia Bom”, que nasceu nesse momento pandêmico, muito pela necessidade de eu entender que preciso descansar e não só trabalhar.

 

Como foi esse processo de remixagem, composição e releitura de algumas músicas, que também ganharam novas participações?

 

Foi uma vibe. Parte foi feita online, menos as gravações das faixas com as convidadas novas, porque fiz questão de estar presente (testada). Foi um processo que fiquei muito dentro de casa, dentro do meu quarto, e imersa no que eu estava pensando. Escrevi muito texto até chegar nas pessoas e convidar, tá ligado!? Mas foi tranquilo… pra “Shonda D+” por exemplo, a Preta Ary já estava no “Shoda” remix, que já era uma segunda versão e tinha também a participação do Froid. Eu mantive o verso da Ary, e até falei para o Froid, que ficou meio chateado [risos]. Falei pra ele: “você vai entender que agora tem que ser um negócio das gatas e não cabe você”. Ele respondeu: “tá bom, entendi, mas estou triste” [risos]. Disse que não tinha problema porque depois a gente podia fazer outra música, inclusive temos um som juntos que não saiu ainda (mas deixa pra lá por enquanto). Para a produção, falei pra EVE que queria uma coisa mais “darkzona”, uma coisa mais tenebrosa. E aí, quando ela me mandou com as vozes já, eu sem querer mandei o arquivo com as vozes da Preta Ary e do Froid, e aí ela colocou. Então, falei: “tem que ter 3 versos nessa faixa mesmo”. Aí mantive o da Ary e chamei a Urias, que em algumas entrevistas já tinha deixado bem claro que queria colaborar comigo. Também sabia que ela gostava da música. Fiz o convite, ela curtiu a ideia, canetou bem braba e ficou esse peso que ficou. Eu pirei tanto que coloquei como single. Era pra ser uma inédita, mas achei que “Shonda D+” tinha tudo a ver.

A outra faixa com feat, de voz, foi a da Tulipa Ruiz, que de 2018 pra cá a gente vem se aproximando, nesse namoro, nesse romance de amizade, e quando ouvi o som, eu estava conversando com o Theo Zagrae (que foi quem produziu a faixa “Dia Bom”, e é um produtor e musicista do Rio de Janeiro incrível)… era uma ideia aleatória, não era um papo de trabalhar. Ele falou que estava fazendo uns negócios, me mandou pra ouvir, e eu pirei. Perguntei se tinha dono, ele disse que não. Falei: “então é meu”. Ele me mandou, escrevi a primeira parte e o refrão, e pensei que seria muito massa se a Tulipa entrasse nesse som. Ela disse que topava mesmo sem ouvir. Quando mandei, Tulipa gostou muito. Não acreditei que ela tinha curtido meu som. Eu sou amiga dela, mas sou muito fã. A gata tem uma caminhada impecável, muito importante na história da música brasileira. Quando recebi a parte dela, pirei. Fomos gravar no estúdio num dia super divertido, onde fiz uma participação num trabalho dela também (ixi, não sei se podia falar)… [risos] Pra mim, chamar pessoas pra colaborar tem que ter link, tem que ter alguma afinidade musical, sabe!? Às vezes dá musical nasce a amizade, às vezes acontece ao contrário, que é quando as nossas referências se cruzam, e até mesmo as nossas diferenças, que podem se complementar. Aí tem os produtores: Theo, EVEHIVE, Th4i (que já tinha produzido “Dollar Euro” e “Imensa Luz”, e acabou fazendo “Preta D+” e “Próspera D+” remix), Nelson D, Jhow Produz (que é meu batera e maestro), Eduardo Brechó… será que esqueci de alguém que participou? Ah tem Melvin Santana e Monna Brutal, que já estava com aquele verso, que acho que é um dos mais fodas do rap, trap BR.

 

É matadora. Quando saiu “Dollar Euro”, eu mostrei o clipe pra uma galera que não conhecia o trabalho dela, e geral ficou impressionado com as rimas.

 

Ela é foda. A desenvoltura dela é demais… o flow, a marra dela. Tudo aquilo é ela demais. E o remix é muito louco porque a gente não mexeu na voz, mas ele é tão bom que parece que é uma outra gravação. A EVE também estourou nisso. Colaborar pra mim é isso, e eu até demorei pra fazer. Sempre participei muito das coisas dos outros. O meu primeiro EP tem dois feats, que é o Sam (que hoje em dia nem canta mais) e o Tiago Mac. No meu segundo só tem a Stefanie… dos meus trampos, eu chamei poucas pessoas pra colaborar, pensando no tempo de carreira. Do “Próspera” pra cá foi que eu chamei mais gente pra fazer mais coisas, e futuramente pretendo chamar mais pessoas que eu me identifico. Eu gosto de pirar, gosto de experimentar as coisas, tanto que às vezes a galera fica confusa se o que eu estou fazendo é rap ou não, sabe!? E pra mim tá tranquilo, porque minhas referências são misturadas também. Não tenho referência de uma coisa só ou de um tipo de arte.

 

Preta Ary, Tássia e Urias | Foto: Camila Toun

 

No começo, você conversava um pouco mais com o jazz. Mas depois fez diversas experimentações. Isso é legal porque não engessa ou coloca o seu trabalho em algum tipo de caixa, e o rap te permite fazer isso. Neste atual tem um direcionamento mais pop, mais pista. A intenção era fazer a galera dançar?

 

Sim. E na verdade eu venho da dança, sabe!? Até acho que demorei um tanto para me aproximar das músicas que eu ouvia quando dançava com a música que eu faço, mas muito porque minha música é melódica (mesmo), tem muita harmonia… apesar de eu não tocar instrumento plenamente, eu crio harmonias complexas nas minhas composições. É instinto mesmo. Então, parecia que harmonias complexas, melodias e coisas dançantes não podiam estar misturadas… e não, nada a ver. Claro que dá pra gente mixar um pouco tudo isso. E como eu tenho esse lance de não querer me colocar numa caixinha só, essa versatilidade está do meu lado e uso isso em meu favor. Também tô nessa vontade, de cada vez mais, voltar a dançar, de ter coisas mais dançantes para minhas performances, para o meu palco. Acho que isso traz mais movimento pra minha vida e consequentemente pra minha carreira. Mas, assim, eu dançava house, tá ligado!? Por que eu não fiz house antes? Eu dancei dos meus 14 até os meus 21 anos. Foram 7 anos dançando em competições, festivais… cheguei a dançar no Festival de Joinville, provavelmente o maior festival de dança do país. Dançava mesmo… por isso, falei: “gente, tá na hora de conectar um pouco disso e fazer essas conexões que tem a ver com a minha história de alguma forma”. Venho pensando nisso, mas o jazz é uma coisa que está em mim. É ancestral, assim como o samba, que é uma coisa da família. Meus pais se conheceram num ensaio de escola de samba (acho tão fofinho esta história)… então, a gente tem esse enredo. Agora, o jazz não sei explicar de onde veio. Sei que está em mim, e sempre vai ter uma pitadinha em alguma coisa. No “Próspera” está ali em “Try”, em “Ansiejazz”, em “Myriam” (que é um samba-soul), no blues de “Preta D+”. No “Próspera D+”. Acho que tá ali um pouquinho em “Amora”, que apesar de ser dançante queria trazer um pouco do jazz que o Djavan tem na música dele… e “Bêbada de Feriado” a gente também quis trazer alguns elementos.

 

Além dessas experimentações musicais, você também trabalha muito a parte visual. Os seus videoclipes têm uma estética singular. Alguns até se tornaram referência. Eles já são pensados durante a produção musical ou tudo acontece depois da música pronta?

 

Geralmente eu vou por partes. O clipe sempre vem depois, mas às vezes já vem algumas imagens, porque a música pra mim é muito imagética. Eu gosto muito de colaborar… acho que colaborar é uma coisa muito rica que potencializa muito o nosso trabalho. Então, quando tenho uma ideia, escrevo e penso na linguagem. E aí, vejo quem casa com essa ideia, converso com a pessoa, entrego a minha ideia e muitas vezes ela é melhorada 100% ou muitas vezes levam a minha ideia para um lugar que eu (talvez) não levaria… porque é isso: você faz uma parada, e aí vem uma pessoa de fora, que não está dentro da sua cabeça, com a imagem que você tá, e muda a ideia de lugar, entendeu!? Eu acho isso incrível! Colaboração é isso… poder contar com a visão da outra pessoa, que é diferente do seu repertório, do que você entende de mundo. E é muito louco, porque foi muito difícil pra mim poder deslanchar videoclipes. O meu primeiro vídeo (“Meu Rapjazz”) foi muito impactante. Depois fiz um outro videoclipe que não ficou tão legal quanto “Meu Rapjazz”, e aí eu não lancei. Fui um pouco julgada pela equipe por causa disso [risadas].

 

“[…] sinto que no Brasil, a gente tem muito essa visão de: estourou quem tem milhões de visualizações e é muito famoso. Eu acho que não. Pra mim, estourar é você conseguir viver da sua arte com dignidade”.

 

Você engavetou o clipe?

 

Eu engavetei, e o cara ficou muito bravo… enfim, eu sou bem crítica, primeiramente autocrítica, e entendi que a gente pegou uma coisa muito boa de cara, o que é massa e me colocou numa posição legal no rap, na música no Brasil. Eu cheguei bem para o meu primeiro single. Então, se eu lançasse algo que não fosse tão legal quanto, ia cair o meu rendimento, e eu não queria isso… foi uma coisa difícil de assumir na época, mas eu sustentei. E hoje faz sentido… aí fiquei meio nessa: como que eu vou lançar outro clipe se o meu primeiro foi muito bom. Por isso, acabei demorando para fazer. Não fiz clipe de “No Seu Radinho”, acho que a falta de recursos ajudou também, porque eu não conseguiria fazer do jeito que queria… preferi não fazer. Depois fiz um que era quase que um visualiser, numa época que ainda não existia, que é o de “Desapegada” (gente será que eu inventei o visualiser?) [risadas]. Isso foi em 2015 [risadas]. Já existia, mas não era esse nome. Esse era um videoclipe de gifs, e depois veio o de “Se Avexe Não”, que apesar de ser um vídeo documental, com imagens de realidade (fazendo coisas do dia a dia), tinha um roteiro, mas fui fazer tatuagem, visitei minha família, estava em Minas Gerais, precisei ir para o Rio. Tipo, coisas reais acontecendo.

Esse videoclipe não foi tão caro assim, mas conseguiu impactar pessoas da mesma forma ou mais do que o meu primeiro. Então, entendi que fazer uma coisa que é muito real pra mim, fazia mais sentido do que fazer um monte de videoclipes que não tem a ver comigo. No “Próspera” eu entreguei mais vídeos. “Dollar Euro” foi o meu estouro. É o meu videoclipe mais visto até então… nele eu contei com a Camila Toun e a Gabriela de Paula (Gabiru) na direção. E a Camila, a Gabiru também, mas ela tem uma visão de fotógrafa que não necessariamente é de videoclipes. Ela tem muita referência de imagem, de foto… e eu gosto muito porque também sou muito imagética com fotos e artes visuais. Acho que foi assim que a gente entrou naquela estética. Obviamente, a gente não inventou aquela estética, mas reunimos um conjunto de coisas que ficou bem emblemático, né!? Já “Shonda D+” tem um pouco disso também, mas conta uma outra história… falando de cabelo como bem material, que para mulheres pretas é muito sério, e um investimento… muito por conta do racismo, que é muito cruel com o povo preto em relação ao cabelo – os homens acabam raspando e as mulheres alisando ou colocando extensões. Acho que de 2013 pra frente aconteceu uma revolução do cabelo natural, do orgulho preto, que a internet ajudou a difundir de alguma forma pra juventude, porque não é uma discussão que a gente inventou agora, é uma discussão que tem décadas mas que a gente conseguiu difundir para que chegasse na garota de 14 anos. Eu só consegui me sentir livre com o meu cabelo quando saí da escola com 17 anos. E hoje a gente tá ligada que tem umas garotas de 9 anos falando “don’t touch my hair” (não toque no meu cabelo)… voltando ao clipe, acho que “Shonda D+” quis colocar isso como um orgulho nosso, como um bem conquistado.

 

Foto: Lucas Silvestre

 

Muita gente conheceu a Shonda Rhimes através da sua música. Como é essa relação com a roteirista, produtora e escritora? Ela é uma das suas maiores inspirações?

 

Olha, no começo ela não me pegou muito. Aí, uma grande amiga minha (que é a Da Mata) falou: “amiga, você tem que assistir Scandal”. Assisti um episódio e achei meio novela. Já no segundo episódio fui pega, arrebatada, pela Olivia Pope, que é a personagem da Kerry Washington. E aí, comecei a ver que a série era muito foda, porque traz outras ideias. É novelão, mas coloca os personagens pretos em outras posições, e tem umas tramas muito malucas… comecei a pirar e virei fã. Logo veio “How to Get Away with Murder” com a Viola Davis. Aí falei: “não, pera! Essa gata é a mesma da outra série?” Tipo, Shonda de novo. Minha cabeça explodiu. Fui atrás dela pra entender um pouco mais, comecei a seguir e vi que ela é mulher (preta!), fora do padrão… ela não tem um corpo magro, tá ligado!? Ela é grande, e muito foda. Depois, alguma amiga falou que eu tinha que ler o livro dela, “O ano em que disse sim”, que é super uma vibe auto-ajuda, mas é sobre ela. E lendo o livro eu vi um pouco dos personagens que ela coloca, do que ela é e gostaria de ser… eu fiquei apaixonada. Falei: “gente, a Shonda é demais”. Agora ela tem um escritório dentro da Netflix, a Shondaland (que fez Bridgerton)… se eu não me engano ela é a roteirista de série mais bem paga nos Estados Unidos… e é uma mulher preta. Então, achei isso muito simbólico pra quem veio da onde eu venho. Eu não sei se ela é de quebrada, mas é uma mulher preta e eu me vejo nela pra caramba… e basicamente é: quando eu fui escrever a música Shonda, eu tava muito brava, muito brava mesmo. Estava entre dar uma porrada em alguém ou escrever uma música [risadas]. Aí escrevi uma música, porque não sou de brigar. O que aconteceu parecia mesmo um roteiro da Shonda, e eu tenho uma grande amiga (que é a Ellen), que fala que acontece tanta coisa no dia dela, que o roteiro parece ter sido escrito pela Shonda… eu fiquei com isso na cabeça, e escrevi: parece um roteiro de Shonda, mas esse não vai pra televisão.

 

Além da Shonda, quais outros artistas te inspiram?

 

Na verdade eu comecei a escrever poesia que virou música. Não peguei uma referência e comecei a fazer, só fiz. Depois que eu identifiquei quais eram as referências naquilo que eu estava escrevendo. Então, as minhas poesias, os meus escritos e as minhas músicas têm muitas referências de samba. Todas elas ou virariam um partido (alto) ou um pagode. Dá pra fazer uma versão “Numanice” que ia dar show [risadas], porque só de pensar em “No Seu Radinho” daria um super pagode… “Se Avexe Não” é um samba, e eu tenho vários sambas escritos que não lancei ainda. Essa ref pra mim é muito pesada… e Djavan, muito por ele também ser compositor (e por ser esse cara incrível, esse ícone, esse rei) e as melodias que ele cria (que vai para um lado e para o outro), muito me inspira e me alimenta. Pelo segundo ano consecutivo, ele é o segundo artista mais ouvido no meu Spotify… escuto ele muito pra fazer as coisas, pra dormir, pra cozinhar, pra passear. Então, se pá, Djavan é minha maior ref, mas tenho outras também, tipo Alcione, Liniker – que eu sou muito fã e tenho o prazer de dividir músicas com ela, da gente poder sentar numa mesa, tomar um café, conversar e de repente fazer uma música -, a própria Tulipa (eu descobri ela quando estava começando a cantar… num momento querendo ouvir cantoras brasileiras que fugissem das regras) e não posso deixar de falar da Ciara. Ela foi o meu primeiro estímulo de arte visual. Eu tinha 13 anos quando vi um clipe dela e falei: “quero dançar que nem essa gata”. É óbvio que tem também Erykah Badu, que faz um neo soul que flerta com rap, jazz e outras coisas, Jill Scott, Destiny Child, Lauryn Hill.

 

Você é uma artista independente que está em evidência já faz um tempo. Nesse período de carreira já recebeu proposta de alguma gravadora?

 

Olha, já tive alguns contatos de gravadora sim. No Brasil foram pelo menos duas, e um flerte com mais uma outra. E teve uma da gringa também… mas foram contratos que acho que noa supriam as minhas necessidades, tá ligado!? Não me cobria do jeito que eu gostaria. Sendo assim, eu prefiro estar trabalhando mais com distribuidoras, que até tenham um perfil mais de gravadora, que suprem algumas necessidades que tenho ou o corre ser feito por mim mesmo. Por eu ser uma artista que já está com uma identidade estabelecida, com algum reconhecimento estabelecido, é difícil uma gravadora querer fechar comigo agora. Geralmente procuram artista que dá tempo de crescer com ele. Eu já ô pronta, já tô nessa caminhada a um tempinho. Dificilmente eu fecharia com uma, mas cada vez mais cresce a vontade de criar a minha própria… hoje em dia eu já edito as minhas próprias músicas, mas tô pensando em criar meu próprio selo ( e talvez até trabalhar com outros artistas), porque tenho vontade de desenrolar o que eu aprendi com outras pessoas… e muito também porque eu desenvolvi uma visão macro, que eu acho interessante: que é você entender de comportamento, de moda, de música, de construção musical, de escolhas musicais, de identidade, de imagem, de imprensa, de negócios da música, de autoral (enfim). São muitas coisas que a gente tem que tá ligado pra poder desenrolar bem uma carreira independente. Também sinto que no Brasil, a gente tem muito essa visão de: estourou quem tem milhões de visualizações e é muito famoso. Eu acho que não. Pra mim, estourar é você conseguir viver da sua arte com dignidade. Não estou dizendo que não quero números, não é isso… daora, só que eu consegui estabelecer o meu nome, ser respeitada e estar na mídia sem isso, tá ligado!? Então, é possível que artistas noa necessariamente precisam ser mainstream pra existir. Talvez isso seja um jeito de pensar do meu futuro negócio [risadas].

 

Isso também tem a ver com o estilo de negócio proposto pela indústria da música de sempre ter algo novo quase semanalmente para conquistar algum tipo de destaque? Você é “pressionada” a seguir esse modelo ou noa fica preso a isso, e segue o seu próprio plano?

 

Eu acho que é interessante saber como as coisas funcionam, e aí você pode escolher se joga ou não. Dentro da minha linha de pensamento, eu tenho uma estratégia. Agora, não tenho condição de lançar uma música a cada 15 dias, nem financeira, nem emocional. Também não quero, na real. Se eu fizer um projeto assim, vai ser porque eu tô pilhada etologia afim de jogar, mas não quero que isso se torne uma obrigação. Acho que cada um tem que ver como se sente confortável. Pra mim é entender como estou me sentindo no período, e agir o mais honestamente comigo, porque nunca foi um bagulho meteórico. Foi um choque quando eu apareci, mas tem sido um degrau de cada vez. Eu sempre falo isso, é um degrau de cada vez, mas eu continuo subindo. Então, preferi ir subindo no meu passo, que eu seguro a minha ondinha, consigo administrar, do que de repente paaaaa, e não segurar essa barra. No momento, eu sinto que eu posso ir mais longe, que eu posso crescer mais, ser mais mainstream, que posso entregar mais outros tipos de coisa para além da música. Eu participei de um filme que está na Netflix (Um dia com Jerusa), quero entregar como atriz, como apresentadora, como comunicadora. Enfim, tem outras coisas que eu quero fazer, noa me limito pelo o que o mercado espera de mim.

 

 

Indicamos também: Bivolt: “A partir do momento que eu decidi me valorizar, eu tive valor para o mercado”. Leia AQUI.

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