Mexer em alguns clássicos pode não ser uma boa escolha. Mas isso está mais relacionado ao público do que com o responsável pela obra, mesmo que este não faça mais parte desse plano. Esse é o caso do Sabotage, que se estivesse vivo completaria 50 anos. Quando os detalhes projeto #Sabotage50anos foi compartilhado, muitos fãs não concordaram com a possibilidade de fazerem versões atualizadas de alguns músicas na voz da N.I.N.A., Djonga, Apelidado Xis, Filipe Ret, Bivolt, Orochi, Amabbi, Djonga, Sant, Vandal e BK’.
O que a maioria desconsiderou foi a necessidade de manter o legado do Sabota e, ao mesmo tempo, a sustentabilidade financeira da sua família, que desde a morte dele trabalha incansavelmente para que a voz continue atravessando gerações. O pacote de ações inclui ainda livro biográfico ilustrado, exposição imersiva, série de curta metragens, filme, linhas de roupas, acessórios e itens de papelaria.
No caso dos rap, distribuído pela Som Livre, a curadoria e direção musical é feita por Tejo Damasceno e Zegon, com a produção de Daniel Ganjaman. Todos os três trabalharam com o rapper em vida, sendo responsáveis por diversas músicas que entraram para a história da música brasileira. “Ter chance de conduzir e apresentar o trabalho do Sabotage como seria hoje para a nova geração é de uma honra sem tamanho”, diz Zegon. “Com muito respeito, tocar novamente na obra que ajudamos a criar no passado é indescritível”.
Para começar, N.I.N.A (do Porte) segue a cadência do drill para interpretar seus próprios versos de “Respeito É Pra Quem Tem” em cima de tambores de um funk denso produzido por Pedro Apoema. Ao final, o Mestre do Canão complementa as ideias acompanhado por batidas um pouco mais aceleradas, porém com camadas mais carregadas. É o encontro perfeito de MCs distintos, que possuem essências comuns. Depois de ouvirem a versão da N.I.N.A, com certeza, o olhar julgador dos críticos mudará.
“A minha inspiração foi mostrar que existem várias perspectivas de respeito, e que as pessoas confundem muito outras coisas, como poder e temor”, diz ela. “Eu quis falar sobre o que a galera de onde eu vim entende como respeito e mostrar que respeito é tudo que a gente tem mesmo”.
O single é apenas o primeiro de vários outros que serão liberados ao longo de 2023. O álbum completo tem lançamento previsto para novembro. A responsável pela iniciativa é Tamires Rocha, filha do Sabotage, com apoio do irmão Wanderson dos Santos, o Sabotinha. O objetivo deles é celebrar a obra do artista e presentear os amantes da obra de um dos maiores expoentes da música brasileira moderna.
Tejo afirma que se inda estivesse entre nós, o próprio Sabota teria ou aprovaria a ideia porque estava na vanguarda. “Não imagino ideia melhor do que a de misturar várias gerações do hip hop, de vários estados brasileiros”, ressalta. “Sem palavras poder fazer parte disso e contribuir neste trabalho que mostrará o carinho e o respeito que temos pelo eterno amigo e gênio da sua arte”.