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O rap do Owerá (Kunumi MC) direciona a narrativa do DOC “Meu Sangue é Vermelho”

O filme denuncia o genocídio de indígenas e mostra a realidade de tribos no Mato Grosso do Sul e Maranhão.

Apenas no começo da sua trajetória musical, o rapper Owerá (Kunumi MC), da tribo Guarani M’bya, aceitou o desafio de visitar comunidades indígenas no Maranhão e Mato Grosso do Sul para mostrar uma realidade que se repete dia após dia no Brasil: a desapropriação de desses povos das terras que sempre tiveram direito.

Os registros das visitas estão presentes no documentário “Meu Sangue é Vermelho”, dirigido por Graci Guarani, Marcelo Vogelaar, Thiago Dezan e Tonico Benites, e 17 vezes premiado em festivais internacionais, incluindo o de melhor filme em Londres.

Ao mesmo tempo que apresenta fatos relatados por líderes, flagra desalojamentos e destruição de “acampamentos”, forçando alguns deles a se estabelecerem na beira de estradas, tiroteios e assassinatos de indígenas e até de seus animais de estimação, o filme também acompanha os primeiros passos de Kunumi no rap e a parceria com Criolo. No estúdio, o MC paulista orienta o aspirante a não ficar de cabeça baixa, se posicionar corretamente ao microfone e valorizar o talento e a beleza que tem. Do encontro nasceu a música “Demarcação Já, Terra, Ar, Mar”, presente no segundo volume da Mixtape da Matilha Cultural.

 

 

Didaticamente, as injustiças e o genocídio em curso são expostos sem nenhuma maquiagem e analisados por Vincent Carelli, historiador que se especializou na pesquisa de indígenas brasileiros, e a líder política indígena Sonia Guajajara.

A perda de identidade, saúde mental, relação ancestral, desmatamento e momentos históricos também marcam presença, como um trecho do discurso de Ailton Krenak na Assembléia Constituinte em 1987, e o protesto com 200 caixões (simbolizando as mortes indígenas) no acampamento Terra Livre no Congresso Nacional (DF) em 2019, que foi violentamente reprimida pela polícia.

“Tem pessoas que acham que nós somos apenas cinza e pó, mas nossa herança é a terra. E a terra é espírito. A terra é história. A terra é sangue dos nosso ancestrais. A terra brota vida… é onde vamos deitar assim que morrermos. A terra é tudo que somos”, diz na abertura do doc, a comunicadora e professora Daiara Tukano.

Dados Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que até o início de 2020, o número de lideranças indígenas mortas em conflitos no campo foi o maior em 11 anos. O motivo desse extermínio é o favorecimento da expansão do agronegócio e pecuária – que tem o presidente da república como principal aliado.

O longa cumpre um papel primordial ao registrar esse momento de degradação. Expõe ao mundo as verdades que são maqueadas pelo governo e faz um recorte certeiro, tendo a música como ponto de partida. Porém, a arte apenas direciona. Dá voz para àqueles que tem muito a dizer, mas constantemente são silenciados.

 

O filme pode ser assistido no VIMEO (veja AQUI)

Meu Sangue É Vermelho from Indie Rights on Vimeo.

 

Indicamos também: Conversa rápida com Fernando Kep sobre as ideias de “AUTOIMUNE”. Leia AQUI.

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