Uma fila considerável se formava dentro das instalações do Sesc Jundiaí, no interior de São Paulo, e estendia-se pela área externa. O objetivo de quem esperava pacientemente quase 3 horas antes do evento, era garantir ao menos um bilhete para ver gratuitamente o show do Febre90’s. Essa seria a primeira vez que o duo formado por SonoTWS e Pumapjl tocaria na cidade (onde o Sono é nascido e criado) depois da data anterior ter sido cancelada por imprevistos logísticos. Conforme o tempo passava, a quantidade de pessoas se multiplicava.
O tempo quente e abafado de sábado, 09 de março, logo se converteu em chuva. Porém, a água não tirou a disposição daqueles que estavam na expectativa – em sua maioria adolescentes – de ver o Febre em ação. Às 18 horas, os ingressos começaram a ser distribuídos. Os primeiros a pegarem não perderam tempo. Correram rapidamente para o ginásio na parte superior do prédio na intenção de garantir um lugar próximo aos artistas.
Esse frenesi me lembrou da multidão correndo logo depois dos portões do Rock In Rio se abrirem, para pegar lugar na grade e ver de perto a performance dos seus ídolos. A comparação pode até ser exagerada, mas ajuda a entender a dimensão do trabalho deles e a fidelidade do público.
Assim que os 700 ingressos se esgotaram, o limite máximo, o acesso foi restrito. Uma pessoa da organização até chegou a pedir para quem tivesse mais de um ingresso, que entregasse para ser repassado aos que não conseguiram pegar. Alguns seguiram a orientação, mas pelo jeito sobraram poucos, deixando cerca de 250 pessoas de fora.
Antes mesmo da entrada dos protagonistas da noite, a pista já estava animada com guarda-chuvas abertos, ao melhor estilo baile funk, bexigas de camisinha voando de um lado para o outro, garrafa de energético sendo virada guerra abaixo, caça a Pokemóns pelo celular e até batalhas de rimas. Às 19h18, o Febre90’s subiu ao palco, juntamente com os b.boys da MacflyMob, e sem nenhum tipo de projeção visual (o que poderia ser um diferencial, porém seguiram a estética raiz do rap). Porém, um problema no microfone do Puma adiou o início por algum tempo. Quase 20 minutos depois, com as câmeras de vídeo dos celulares ativadas, eles retornaram para fazer a alegria de todos.
Nos sons iniciais, focados nos projetos solo do Pumapjl, a plateia mais acompanhou do que se envolveu – talvez pela densidade das músicas. Isso aconteceu quando as mais conhecidas bateram, principalmente “Você Está com Febre?”, “Malandro Vira Bicho” e “Sementinha do Mal”, que deram o sinal verde para que o bate cabeça se formasse. Ao final, cerca de 40 minutos depois de iniciarem, Pumapjl fechou sua participação, e foi ovacionado. O Sono ainda se manteve por mais uns 15 minutos fazendo um beat set, como de costume.
Enquanto o produtor/beatmaker tocava, muitos se aglomeraram em frente ao palco na expectativa de pegar um autógrafo ou tirar uma foto. Vários tiraram os tênis (inclusive Jordans e Air Forces) dos pés para que fossem assinados. Com a promessa de que atenderiam a todos para fotografias e assinaturas, uma outra grande fila se formou perto da porta de entrada do lugar.
Essa atenção só fortalece a relação entre os artistas e seus fãs, que mesmo acompanhando pela internet – e às vezes não tendo idade para comparecer aos shows – querem também vivenciar a experiência. É um público de rap que está se formando, tendo como porta de entrada o trap, drill e até o funk, e enveredando pelo boombap através das batidas do SonoTWS e as letras de cria do Pumapjl, que fala a linguagem dessa nova geração por compartilhar as gírias da sua área, no Rio de Janeiro, e as vivências nas ruas. De Fato, essa porra é febre.
