Fazer um convite para a celebração diária do empoderamento feminino na luta pela existência de corpos dissidentes é o objetivo da Dani Nega com “Sai Boy”. Nas linhas, a MC manda um recado direto aos homens héteros cis sem noção, que acreditam que mulheres lésbicas sentem falta da presença afetiva masculina.
“A música nasce da voz das mulheres cis e trans lésbicas invisibilizadas pelo machismo e apagamento nas vias de comunicação e engajamento social”, diz.
Para dar mais força ao seu grito de resistência pela liberdade de ser quem é, nos lugares onde deseja estar, ela chamou Ellen Oléria. Acompanhadas por um funky soul cheio de suingue, bem convidativo para uma dança, as duas pedem respeito a quem tenta invisibiliza-las e reafirmam a potência que elas têm.
“Ao pensar na mulher preta e sapatão, existem muitos preconceitos que chegam antes da fala e aproximação das mesmas”, afirma a rapper. “São preconceitos sobre sutilezas, aparência física, comportamento, autocuidado e até mesmo hábitos de higiene, que são muitas vezes mitificados, especialmente nas lésbicas de pele negra retinta. As mesmas muitas vezes são vistas sob um limitador olhar de masculinização generalizada, excluindo a humanidade, pluralidade e o direito ao cuidado e afeto nas esferas sociais, profissionais e até mesmo em espaços íntimos como na família e nas parcerias afetivas”.
Pensando em dar ainda mais visibilidade para mulheres e corpos dissidentes, Dani formou uma equipe toda feminina para a produção do vídeo, que pega referência do aclamado Colors. A direção e montagem são assinadas pela cineasta Cibele Appes e recebe a participação da dançarina Malu Avelare e da própria Ellen.
“O clipe nos convida para a celebração diária do empoderamento feminino e apresenta ao fundo cores e luzes das bichas pretas e sapatão, que cada vez mais toma para si os espaços políticos e midiáticos para que o pedido de respeito vire uma ordem”, ressalta.
Também atriz, compositora e ativista do movimento negro e LGBTQI+, Dani faz parte do Craca, projeto musical feito em parceria com o produtor/músico/performer Felipe Julian. No 28˚ Prêmio da Música Brasileira, a dupla foi premiada na categoria de Melhor Álbum Eletrônico. Na atuação, ela participa de importantes grupos de teatro, como “O Crespos”, “Coletivo Negro” e o “Núcleo Bartolomeu de Depoimentos”, o qual ganhou o Prêmio Shell de melhor trilha sonora com o espetáculo “Terror e Miséria no Terceiro Milênio”, que assina a direção musical.
Foto: José de Holanda