Se faz necessário valorizar e, principalmente, respeitar as mulheres do RAP. Sabe-se que mesmo dentro da cultura Hip Hop, que tem a inclusão como um de seus pilares, as MCs ainda não recebem a devida atenção. E não é por que estão fazendo trabalhos ruins, pelo contrário. Esse não reconhecimento acontece pelo simples fato de serem mulheres. Isso fica evidente nos line-ups de festivais e da reação de boa parte do público quando se destacam nos rolês – como aconteceu no Festival Batuque de 2017 (leia AQUI). Mas apesar dessa “invisibilidade”, elas continuam mostrando que têm potencial para estar no mesmo patamar de qualquer artista. A Clara Lima é uma delas.
Freeslyleira nata, a MC se tornou a primeira mulher a representar Minas Gerais em 2015 no Duelo e na Batalha do Conhecimento. No ano seguinte, Clara venceu o YO Music Brasília. Essa consolidação nas batalhas abriu portas. “Transgressão”, de 2017, fez sua estreia. Agora, ela sobe mais alguns degraus com “Selfie”.
Nas 8 músicas que compõe o EP, Clara Lima usa suas experiências pessoais para falar sobre conquistas, adversidades, amor, sonhos. É um auto-retrato. E mesmo nas letras mais enfáticas, e até “agressivas”, a “vilã do Show de Truman” [como diz em “Talvez Bem Mais”] mantém a suavidade na interpretação. Está leve. “Me sinto mais livre para criar. Falo sobre sentimento, sobre me enxergar nesse novo lugar que estou e em como amadureci nesses 3 anos”, diz.
Clara tem versatilidade. Canta e rima facilmente. Criou um projeto multifacetado. Acerta nas parcerias com o seu irmão Chris MC em “Tudo Muda”, MC Guimê na amorosa “Pássaros”, e com os beatmakers Go Dassisti e Gee Rocha. Assim, “Selfie” não se prende aos rótulos. Transmite verdade. E consegue passear musicalmente em múltiplos gêneros – incluindo samba e bossa – sem que uma track se destoe da outra. Mantém-se na linha. É sólido. Mostra que a rapper está mais do que preparada para ocupar todos os lugares que desejar. Esse é apenas o começo.
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