As marcas amam culturas racializadas. Mas não amam pessoas racializadas. A prova disso: celebridades negras, indígenas e imigrantes do entretenimento global foram historicamente menosprezadas e rejeitadas pela publicidade desde sempre e no mundo todo. Algumas continuam esquecidas até hoje apesar de terem construído um legado importantíssimo. Na moda, na música, na dança, no esporte, nas artes plásticas, cênicas, então é óbvio que com o rap não ia ser diferente…
A relação entre a cultura hip-hop e a moda de luxo sempre caminhou na corda bamba. Demorou muito para as marcas de grife tratarem pessoas de cor com a dignidade que elas mereciam. Para algumas pessoas, mesmo já em 2021, ainda é difícil mesmo acompanhar o ritmo da periferia que sempre demonstrou seu poder inabalável e autossuficiência em parcerias bem sucedidas com empresas, capas de revistas badaladas, videoclipes muito bem produzidos e, principalmente, nas suas letras poderosas que quase sempre mencionam alguma marca ou item de luxo, ascensão e distinção social.
As grifes mais tradicionais – em grande parte europeias – sempre lucraram com a associação indireta, e quase sempre indesejada, com a cultura de massa proporcionada pelos rappers. Isso explica porque a maior parte delas fingia que esses artistas nem existiam. Até que em 2018, logo após o Hip Hop ultrapassar o Rock como ritmo mais ouvido no mundo, o site Business Of Fashion publicou uma matéria dizendo que os “Rappers são a nova realeza da moda.” e ficou impossível não ver o bonde passando e sem ré.
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Ele não é o cara do momento à toa… Nas 3 primeiras horas após postar uma foto vestindo o Nike Dunk Newcastle, 10 pares do tênis foram vendidos e os preços aumentaram em mais de 40% na plataforma de revenda Stockx. Por isso, não faz sentido as marcas continuarem a ignorar o impacto comercial dos rappers. O reconhecimento deles vale muito mais que um voucher e todo mundo já deveria saber disso.
Marcas são ecossistemas. Precisam demonstrar muito mais que apenas a funcionalidade de um produto. Precisam estar em contexto com o mundo, estabelecer uma conexão real com a sua audiência – organicamente e sem filtro – e sempre pensar em como educar o seu consumidor. O trabalho não termina quando o produto é vendido. A experiência do consumo tem que ir além das lojas, de maneira sutil e conveniente ao comprador.
Desse jeito, o Branding se torna uma extensão do Storytelling. Traduzindo: Usar ferramentas de previsão de cenários sem um pensamento e ações estratégicas pode causar mais mal que bem…
Nessa nova dinâmica de mercado, tudo pode se tornar um produto e qualquer pessoa pode virar uma empresa. A gente acompanha esse fenômeno que ocorre conforme o avanço das redes sociais, o engajamento e a retenção de público que marcas e personalidades públicas vêm demonstrando.
A humanização do consumo “devolveu” a voz para as pessoas e mudou a personalidade e o tom de voz das marcas.
1. Desde o início da sua carreira, lá em 1994, Jay-Z procurou se destacar por suas escolhas, seja de roupas, jóias, carros, sapatos e também seu champanhe favorito. Em boates, shows, videoclipes etc sempre era visto com uma ou, melhor, VÁRIAS garrafas de Champagne Cristal. Ele até ensinava a pronúncia correta do nome do champagne francês em uma música. Até que em 2006, em uma entrevista o porta-voz da marca rejeitou e menosprezou a associação com os rappers e então Jay Z respondeu com um verso atômic, baniu a marca e se tornou embaixador, hoje também acionista, de uma das suas maiores concorrentes, a Ace Of Spades: boicote histórico!
2. A Fenty Beauty foi lançada em 2017 sendo um hit instantâneo por conseguir fazer o que nenhuma outra marca de beleza havia feito até então: se conectar com pessoas reais! Seu comprometimento em atender à pluralidade sem qualquer barreira, seu olhar para o local, entendimento sobre os vácuos do mercado, construindo coletivamente (colaborações), conhecendo o passado e aprendendo honestamente com os erros para avançar livre em direção ao futuro. Além disso, contou com a união sinistra entre a autoridade em beleza, poder e popularidade da Rihanna e o conglomerado de produtos de luxo LVMH que é responsável pelas operações da Sephora.
3. A Por Menor, marca de streetwear de Bento Ribeiro, bairro do subúrbio carioca, viralizou e viu um boom de vendas nos seus lançamentos por suprir o que faltava no mercado: histórias reais do suburbano, sobre música e futebol contadas por quem realmente as vive e em colaborações com outras marcas e criativos locais. Tudo em casa!
4. A Telfar é uma grife nova iorquina que produz vestuário e acessórios, mas é mundialmente famosa por sua estratégia de marketing, que a gente chama carinhosamente de BBM (sdds!): bye-bye bots e memes! A partir do slogan “Não é pra você, é pra TODO MUNDO” eles lutaram contra o padrão de exclusividade do mercado e combateram os robôs da revenda superfaturada criando um sistema seguro de compra pautado no planejamento da sua produção.
*Artigo produzido pela SILVA PRODUTORA – Agência de Comunicação e Produtora de Imagens ~ Narrativas Descentralizadas sobre Brasil Real.