Lá em 2017 ressaltamos que a B.art merecia atenção [leia AQUI]. Naquele momento, a MC de Pelotas (RS), hoje com 29 anos, estreava com “Minas no Alto”. Agora, ela entrega o seu primeiro disco “Filha do Sol”. É evidente que nestes quatro anos houve uma evolução artística. Bartira Val Marques Silva subiu vários degraus. Está pronta. Isso está muito bem evidenciado nos pouco mais de 26 minutos, divididos em 10 músicas. Para um disco, o tiro é curto. Mas neste caso, cada segundo é muito bem aproveitado.
Guiada pelo deus do sol, Ra, B.art conta sua história, que é igual a da maioria dos brasileiros, destaca a ascensão social e intelectual dos pretos – ao mesmo tempo que bate de frente com o sistema que tenta a todo momento exterminar essa população, aborda o apagamento da identidade negra, fala da sua vivência no lugar e, claro, é romântica.
“Da descolonização à busca por poder até a percepção de que poder em um mundo que pede socorro, não basta. Tá tudo errado.Descobrimos quem somos, recobramos nosso espaço, pedimos o que é nosso de volta”, diz. “Lutamos por direitos, por igualdade, mas quanto tempo isso vai levar? E quando conseguirmos, o que ainda restará?A ação do ocidente causou mudanças profundas no modo de vida, não só para o povo preto e pra sociedade, mas para o planeta Terra. A história não é mais a mesma, o mundo não é mais o mesmo os “reis e rainhas” de hoje estão vivendo outro contexto”.
As palavras são cirúrgicas, mas também poéticas. Te leva para uma outra atmosfera com diferentes estéticas sonoras. Também mergulha de corpo e alma naquilo que propõe entregar com finesse. Não se perde na diversidade musical, que reflete suas referências. O álbum visual dá ainda mais uma dimensão de todo o conceito utilizado. É enérgica em “Yuguru”, que chega carregada de punk rock. Está mais solta na atraente “Black Money”. E enfática na densidade de “South by South”, e “I.D.G.A.F”. Sensata em todas as linhas. Assim como o sol, o disco se mantém quente durante todo o ciclo. Alguns momentos são mais acalorados, e outros um pouco ameno, como no poema “Dvac”.
As questões levantadas por B.art são essenciais, passam a visão de alguém que não está no eixo Rio x São Paulo e mostra a potência do rap no Sul do país.