No seu sexto Diário de Bordo, que teve seu primeiro volume apresentado em 2010, Rashid coloca toda sua raiva para fora. Mas não é apenas um desabafo. Os alvos estão muito bem definidos. Mirando na testa dos negacionistas, começando pelo presidente e as bancadas da Bíblica, da bala e do boi, a esquerda e até alguns colegas de ofício, o MC não só denúncia a situação deprimente do Brasil no desastroso combate à covid-19. Também aborda o racismo estrutural e o genocídio promovido pelo estado. Passa a visão principalmente para que pretos e periféricos abram os olhos e fiquem atentos na escolha dos seus representantes.
“Eu nunca quis retomar a série ‘Diário de Bordo’. Só que eu não me lembro de ter vivido um período tão conturbado no país desde que tenho consciência de mim mesmo e da sociedade”, diz. “É impossível, eu, artista que se compromete a espelhar a realidade em sua arte, não trazer tudo isso à tona”.
Para disferir seus golpes certeiros em cada um dos rounds, Rashid tem a companhia de Chico César, que fica na retaguarda com uma interpretação carregada, para representar a agonia, a dor e o desespero. “Sabendo do quanto Chico César é um artista politizado e posicionado, enviei para ele o que tinha. Ele acrescentou muito mais riqueza, sentimento e aquela letra incrível”, comenta Rashid. “Eu nunca havia pensado em ter um participação em algum ‘Diário de Bordo’, mas, sem dúvida, ele era o cara pra isso”.
Iniciada em 2010, a série Diário de Bordo é uma parceria feita com o Dj Caique. Nesta, o produtor usa uma textura mais densa e crua para fazer a base. Como já estão entrosados, música e letra se completam. Pode-se considerar que ela tem uma certa atemporalidade (infelizmente), porque trata de uma problemática brasileira que se repete todos os dias. Um exemplo disso é o assassinato de 25 pessoas durante uma (criminosa) operação policial na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, um dia (06 de maio de 2021) depois do som ser liberado para streaming. Até parece premonição, mas sabe-se que não.