A felicidade estampa o rosto de Edi Rock. Não poderia ser diferente. É a primeira audição pública de “Origens”, o segundo disco solo dele, o primeiro pela Som Livre. As caixas tremem com a potência. Entre uma música e outra, Cocão aperta um baseado, cumprimenta os amigos que o rodeiam, posa para fotos, dá uma tragada, dança e sorri – tudo em ordem aleatória. Está quente, abafado. O ambiente é pequeno, mas todos estão confortáveis. As luzes de neon, predominantemente azuis, iluminam. A essência do incenso se espalha pelo ar.

A atmosfera remete aos bailes que esquentaram as noites de São Paulo no final dos anos de 1980 com os DJs mantendo a temperatura em alta, intercalando “pedradas” da era de ouro do RAP. O palco está ornamentado com raros rádios boomboxes. Do lado direito há uma foto clássica do 2Pac. No esquerdo, para fazer o contraponto, tem uma pintura colorida de Nothorious B.I.G. Ali, no altar, Edi Rock explica o conceito de cada um dos sons. Os comentários são rápidos, mas dá uma visão de como o disco foi arquitetado e o porquê da escolha dos parceiros – a grande maioria em ascensão.

“Quero dar espaço para jovens promessas, além de grandes parcerias com amigos de longa data”, ressalta. “Quero levar o RAP para lugares que ainda não chegamos, quero mostrar nossa força e também conhecer novos ares, experimentar e explorar novas musicalidades”.

Ao tocar “Da Onde Eu Venho”, ele ressalta a genialidade do MC Pedrinho, que na época em que gravaram juntos tinha apenas 15 anos. Edi Rock revela também que ia seguir na linha da ostentação, mas preferiu manter sua essência e fazer uma ode à sua quebrada. Há dois anos, o rapper recebeu críticas por se “aliar” ao funk e entregar um som carregado de trap. Isso não fez tanta a diferença.

As 14 músicas de “Origens” mostram o quanto o veterano rapper está aberto a experimentações. Foge completamente do “comum”, mas mantém sua identidade.  Surpreende com a versatilidade de expressar suas ideias em diferentes andamentos.

Tem a inserção de um “sertanejo” em “Uq Cê Faria”, que era para ter a participação de Marilia Mendonça, não sendo possível por questões burocráticas, mas a cantora Lauana Prado correspondeu às expectativas. Essa pode facilmente ganhar às rádios do Brasil. Quem não sabe pode se espantar, mas a música “caipira” é uma das referências de Edi Rock, por causa do pai que todas as manhãs ouvia o programa do Zé Bettio. No mesmo seguimento dessa está “Upperhand”. A presença do dinamarquês Jan, que Edi conheceu na Bahia, deu a música um direcionamento folk, cheio de “sujeira” das guitarras, somada à sensibilidade dos violões e o peso das batidas.

A viagem é interessante. A experiência indescritível. Surpresas não faltam. É evidente que os acostumados com o estilo Racionais MCs vão levar algum tempo para entender a proposta. Mas a compreensão virá. Toda a influência de Edi Rock está exposta, na musicalidade e nos versos.

“Inspiração, coração, evolução. Corpo, alma, mente. Emoção, reflexão, amor, disposição. Minhas origens, origens, minhas raízes. De onde eu vim, pra onde eu vou, por onde andei. O que eu sou, onde estou, que eu fui o que sou. Minha mente, alma, coração sobre todas as coisas. A música, origens, minhas raízes, minha música. A música, salvei, meu amor, minha dor, meu rancor. Entre o amor e o fuzil, o reflexo do Brasil. A música é minha inspiração, a música é inspiração”.

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