“Tá muito mais pesado”, diz Projota ao comparar “Tributo Aos Sonhadores I” com o seu antecessor AMADMOL. Ambos têm a mesma fórmula. Mas cada um com sua particularidade. “Eu consegui mesclar melhor o pesado e o leve. O que é pesado, tem muito peso. E as que são leve, chegam daquele jeito. Eu tenho certeza que a gente acertou. Tá bem forte, bem pesado, da minha forma de fazer, como sempre foi”. Projota não altera a receita. Apenas inclui ingredientes extras. Entrega o que o seu público gosta e quer ouvir, uma mescla de vitórias, vivências, romances, malandragem. Tudo muito bem embalado com a vertente mais “pop” do rap.
“Eu estava muito bem, feliz, tranquilo. Estava com uma paz interior… inclusive, estava encontrando cada vez mais essa paz. O dia que eu comecei a escrever esse disco, fui tocado por Deus. Eu não tenho religião, mas eu acredito em Deus, acredito numa energia que rege… e que está aqui agora, e falou comigo no dia. Me acordou, real… e eu comecei a escrever. Escrevi 11 músicas em 6 dias. Eu acordava às 6 da manhã e ficava até às 3 da manhã do outro dia. Parava só pra comer. Era uma loucura. Estava em transe”, diz.
Como nas antigas, o objetivo inicial do rapper do Lauzane era fazer uma mixtape com 16 músicas. Mas, apesar de estar no controle do processo criativo, escolhendo os produtores [Insane Tracks é um deles] e participantes, teve de seguir a estratégia do mercado, dividindo o projeto em 2 volumes. “Eu falei com meu empresário que queria fazer uma mixtape, porque acho que o público anseia por isso, um trabalho mais viceral, mais puro. Como eu fazia antes… mixtape com 19-20 faixas. Na minha visão, como eu tinha feito muita música, se eu soltasse só 10, eu ia perder as outras 10, porque elas fazem sentido agora… talvez não faça depois. Mas aí, a gente decidiu dividir pra adequar, pelo menos um pouco, ao cenário atual. Hoje a galera está mais escutando singles e EPs de 5 ou 6 músicas. Eu vou vir com 2 de 8. A mixtape era pra dar de presente para os meus fãs, que, assim como eu, são os sonhadores”.
De fato, o consumo de música nos dias atuais é completamente diferente de 10 anos atrás, quando os CDs caseiros predominavam no rap, servindo de cartão de visita. Fugir à regra é algo que as gravadoras dificilmente fazem. Não querem correr riscos, mesmo sabendo do potencial que o seu artista tem. Coisas do jogo. No caso do Projota, o esquema tático é bem montado. Isso fica visível pelo direcionamento dos 2 primeiros singles / vídeos. “Sei Lá” segue a receita radiofônica, aliando o romantismo da composição com linhas suaves de violão – muito em alta no rap – e a participação do Vitão, uma das sensações do pop brasileiro. Já “Celta Vermelho” é mais rua.
As 2 músicas se contrapõem para atender os distintos públicos do MC. Atinge a meta inicial, mas não para por aí. Projota também flerta com a geração trap com “Fora Da Lei”, que tem a participação de Muzzike e Coruja BC1. Essa se diferencia de todas as outras. Tem um grau a mais de peso. É o som de “vagabundo”, que faz tremer os graves do falante dos carros. Bem diferente de “Perto do Céu”, um love song dedicado ao Chorão, morto em 6 de março de 2013. Bem ao estilo Charlie Brown Jr., a canção transmite a proposta conceitual do projeto.
“Eu conheci o Chorão pessoalmente dez dias antes dele falecer. A gente estava marcando de ir para o estúdio gravar um som. Aí, eu encontrei com ele no Ibirapuera. Na época eu andava de patins. Eu estava de patins, e ele de skate num canto do Ibira, sozinho, escondido. Quando nos encontramos ele disse: “porra mano, de patins não… caralho, nem quero mais trocar ideia com você”. Mas depois da zoeira, ele me convidou pra andar na pista dele em Santos. Eu seria o primeiro a andar de patins lá… então, a gente trocou uma ideia que foi surreal. Ele me falou coisas sobre a minha carreira, da admiração que ele tinha pelo meu trabalho… E a gente falava de fazer músicas juntos. Foi um encontro de alma. Naquele dia eu não podia ter voltado pra pista, tinha que ter falado pra gente gravar naquele dia. Talvez poderia ter sido diferente”, reflete.
Mestre da narrativa, Projota te coloca numa cena de assalto de banco, no melhor estilo Bonnie e Clyde, em “Disco Voador”. Como de costume, a história contada por ele não tem final feliz. Porém, o enredo empolga. Faz você pensar nas escolhas que a vida te obriga a fazer. “Numa rápida análise, sempre que faço uma música que alguém morre no final é por que eu perdi minha mãe cedo”, observa. “E perder minha mãe cedo me bateu… me bateu, mas também me empurrou. Então, quando eu ‘mato’ alguém eu vou empurrar quem ouvir a música, tá ligado!? Essa é minha forma de analisar a música”.
No geral, “Tributo Aos Sonhadores I” não traz muitas surpresas. Projota fica na sua zona de conforto. Mas atinge o seu principal objetivo: agradar aos fãs. “O disco é energia pura… energia positiva, sonho e esperança. Só que tudo isso de uma forma, às vezes, inconsciente, em camadas. Ele vem pra falar com você: “Mano, acredita… dá sua mão. Estamos aqui. Vamos fazer o nosso mundo. Eu te passo a minha energia e você me passa a sua.”
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