Apesar do “pouco tempo” na ativa, as irmãs Tasha e Tracie se tornaram referência na moda das ruas – mostrando que é possível se vestir bem, gastando pouco. Nesse curto espaço de tempo, elas também construíram uma base sólida no rap. O EP “Rouff” e o single Tang” mostraram o potencial delas, e abriram o raio de extensão para alcançar mais ouvidos, assim como as várias colaborações com diferentes artistas.
A junção de sagacidade, letras apimentadas e interpretações explosivas faz parte de uma identidade singular muito bem lapidada. Apesar de gêmeas, cada uma tem sua personalidade que cria algo único – difícil de fazer igual.
Essa singularidade fica ainda mais evidente no EP “Diretoria”. A temperatura está sempre acima dos 45 graus. Para quem está tendo o primeiro contato, as músicas podem chocar. Ser tratada também como uma ego trip. Mas não. Tudo faz parte do gene artístico das duas, que pode até estar ligada à vertente “putaria” do funk, porém, vai muito além.
As narrativas criadas por elas falam mais sobre a autoestima e liberdade da mulher do que a simples perversidade – e não estariam erradas se também fosse. Elas não se prendem, estão bem à vontade. Soltas pra dizer o que todas querem ouvir. É sensual. E também sexual. A intensão é fazer o ouvinte viajar no som, sem o compromisso de ficar analisando as ideias.
As texturas criadas com a junção dos instrumentais Pizzol, Cesrv, Devasto, DJ MF e Mu540 refletem as vertentes que influenciam diretamente o trabalho que Tasha & Tracie tem feito (que se aproximam da estética usada por Kamaiya e Leikeli47). Tem a mais pura essência da rua. “Lui Lui” é o ponto alto. A troca com Febem e ONNIKA atinge o nível “hard”, inclusive na letra. A “SUV” atinge o mesmo status. Talvez nesta, a participação do Yunk Vino não seria necessário. As meninas entregam tudo, como fazem no fecha “Diretoria”.
Os quase 23 minutos são consistentes. Para os mais puristas (e machistas) pode não bater bem pela forma explícita que elas desenrolam as ideais. Esse é mais um passo para que a voz das mulheres sejam reverberadas, para que elas falem o que quiserem. É que não haja mais silenciamento por conta de conservadorismos dentro de um dos movimentos mais libertários da história da humanidade: o Hip Hop.
*Foto: Steff Lima