A pandemia vitimou mais de 600 mil pessoas no Brasil. A negligência do governo foi a principal causa de tantas mortes. Entre os que se foram está Eneas Carvalho, o Enézimo (do Pau de Dá em Doido), um dos rappers e ativistas mais respeitados do Hip Hop. Nessa cultura que tem o rap como um dos seus pilares, ele foi o mentor da Stefanie.
No período de luto, em que encontrava uma forma de superar a tristeza da partida precoce do professor, a MC escreveu “Coroa de Flores” em parceria com o seu companheiro Gigante no Mic, que também lembra da perda recente do pai e da avó.
“Acredito que a morte não é um fim, é apenas mudar de um plano para o outro. Na letra falo de um reencontro, de estar junto novamente, de uma nova vida e acredito que isso seja possível”, diz Stefanie. “Esta música é para trazer conforto e deixar essa mensagem aos nossos entes e a tantos que partiram”.
Só o título dá uma visão do tipo de mensagem que será transmitida. Na realidade, os sentimentos são diversos. E é por esse motivo que a música produzida por Grou e Nave tem duas partes. A primeira, apesar da densidade, é mais suave. Faz uma reflexão sobre a saudade, relembra momentos importantes na companhia de quem se foi e tenta lidar com a ida (muitas vezes antecipada) de quem se ama para outro plano.
No complemento, a batida fica mais carregada para casar com as ideias. É um papo reto e cru sobre a valorização das pessoas enquanto estão presentes.
Essas oposições ficam bem mais claras no vídeo dirigido por Laiz Amarante e Renan Samam, que tem a participação do Arnaldo Tifú, e Insan Diego. Elas possuem pesos diferentes. Vai de uma estética serena, para outra mais sombria (no ambiente, nas roupas e nas cores). Ao mesmo tempo que traz afago e emociona, gera um incomodo (necessário). Chama atenção para a urgência de viver o hoje intensamente como se fosse o último dia da vida.