Lá em 2019, o Sant anunciou que pararia de fazer rap. Mas o parar (na visão dele) estava relacionado à forma. “Era porque eu estaria fora dessa indústria e lógica mercadológica. Foi bom pra mim e eu não sei se realmente estou pronto pra voltar”, afirmou em conversa com o João Victor Medeiros no Raplogia. Naquele mesmo período, ele colocou na rua o EP “Fazendo Arte”, produzido pelo LP Beatzz. O trabalho experimental marcava um retorno rápido depois da suposta aposentadoria.
Foi neste espaço de dois anos que o MC se organizou para voltar de fato com álbum “Rap Dos Novos Bandidos”, também feito em parceria com o LP. “Esse “foi um tempo necessário de reclusão, onde voltei minhas atenções à minha área e família”, diz. O ambiente onde vive, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o inspirou nas letras.
As narrativas servem como um diário de bordo das observações do cotidiano da sua área e as visões que pretende passar. Algumas são mais diretas, outras ficam nas entrelinhas e uma pequena quantidade delas não tem um desfecho final (aí, a interpretação fica por conta do ouvinte). Porém, todas são muito bem construídas. Sant sabe estruturar suas linhas. É um cronista da realidade com coerência nas ideias. Não se perde na explanação. Facilmente, alguns sons poderiam servir de roteiro para um filmes, tipo “Adidas e Nike”, “Gestão” e “Pertencente ao Crime”.
Essa pausa que ele fez pode ter o ajudado a explorar um pouca mais sua identidade. Está um pouco mais enfático, intenso. Menos engessado. Obviamente, não agradou a todos. Recebeu críticas nas redes por pegar o bonde do drill, mesmo não fazendo parte do “movimento, e não entregar mais do que era esperado. Para alguns, a expectativa não foi atingida. Mas olhando para o macro, esse é o disco que Sant queria fazer (e deveria ter feito) anos antes. Ele pega várias influências para criar sua estética.
Isso reflete também nos artistas que convidou para marcar presença: Costa Gold, MC Cidinho, DJ Erik Skratch, SD9, VND e Tiago Mac. De todos, o ponto alto é “Iris”, com MC Cidinho mandando suas rimas em cima de uma batida de funk “cru” ao estilo 808 dos anos 90. “É minha retomada, pessoal e profissional. O registro de um de nossos estilos de vida e um pouco de cada morador, correria, vagabundo e sonhado”, afirma.
Apesar das 15 músicas, “Rap Dos Novos Bandidos” tem pouco mais de 30 minutos. A grande maioria das músicas não chegam a 3 minutos. Segue uma tendência, mas atrapalha o desenrolar da história. Esse é o caso de “Puxa o Gatilho Primeiro”. Ela começa no alto, mas é finalizada com um desfecho que não deixa a ser entendido nas primeiras audições. Só com atenção entende-se a proposta.
Diferente dos raps estruturados no storytelling, Sant faz relatos objetivos. E o suporte do LP Beatzz é primordial para que essas histórias sejam contadas do jeito que foram retratadas.