“Amar e odiar são duas palavras importantes nesse processo de viver o Rio de Janeiro. Conversando com muitos amigos sobre o que é viver nessa cidade, sempre o amor e o ódio estão juntos”. Esses contrastes citados pela Roberta Dittz, vocalista da Canto Cego, estão presentes na estrutura de “Rio”, música da banda da Favela da Maré em parceria com o cantor e multi-instrumentista Morgado.
A composição serve de manifesto sobre os extremos da cidade maravilhosa, que tem uma beleza exuberante, porém, sofre com o descaso e a violência – principalmente nos subúrbios (periferia). E mesmo com todo o seu contraste e contradições é adorada por quem a visita e amada por seus crias.
“A canção honra esse lugar de cria, de pessoas que se criaram e se formaram nesse espaço e que amam esse espaço de alguma forma”, afirma Dittz, que é complementada pelo baixista Magrão, responsável por criar a primeira versão da letra: “ela mostra um pouco do que a gente do Rio é, se entende e participa da cidade, que é cheia dessas contradições, problemas, mas também é um lugar sensacional para se viver, atuar e fazer parte”.
Para casar com o ambiente carioca, a estrutura musical foi desenvolvida a partir de referências distintas, que vão da bossa nova ao rock, flertando com o dub e o neo-soul. Essa junção cria uma atmosfera efusiva em alguns momentos e densa em outros. Consegue ir para diferentes lugares sem perder a direção.
“Acabou que ela virou um ‘saladão’ de influências. E é maneiro que todas elas acontecem de uma forma muito harmoniosa sem conflitos, observa o guitarrista e produtor Rodrigo Solidade. “A gente se apropriou de diversas sonoridades, começando como um samba e terminando nessa mistura, que faz parte da nossa identidade”.
*Foto: Paulo Barros