O Rashid já havia reafirmado em Interior, que “o melhor speed flow que você ouviu vem do Ceará”. Ele se referia a habilidade que RAPadura tem para rimar numa velocidade acima da convencional sem deixar que o conteúdo lírico seja entendido.
Nas linhas de “Meu Ceará”, o MC mostra que continua em boa forma. A música [escute AQUI] é uma ode ao estado nordestino, suas belezas e personalidades: de Patativa do Assaré a Belquior, Viviane Sucuri, MCharles, Raquel de Queiroz e Maria da Penha. Mas não se limita a falar da terra natal. Ele também crítica a falta de originalidade e excesso de futilidades no RAP atual, ao ego e, claro, aos políticos. “Em meio ao lixo musical resisto igual janguruçu”, diz um dos versos, que é seguido por uma série de “pincha”: “Tu quer faz me rir eu ganho a vida sou rico, sorrindo, tipo Tirulipa, já que deputado é tudo safado, por que que o palhaço é o Tiririca”.
Nos últimos anos tenho ido mais à minha terra, tenho estado mais próximo do meu povo em diversas viagens pelo Ceará, idas ao interior, ao Cariri e ao Sertão. Senti essa vontade bater forte em meu peito, como um chamado sabe?”, afirma. “É hora de lutar. Precisamos seguir com esperança e fé. Nos lugares mais carentes eu fui abraçado, fui cuidado, fui amado. Quando morri em mim, renasci mais forte para esse propósito. E quando um ser tem um propósito até a morte respeita seu objetivo de vida, sua missão.”
Para acompanhar seus versos, que não deixam de ser prosas, o autodeclarado “cidadão instigado que jamais paga pelo jabá usa um boom bap com graves acentuados, intensos, produzidos pelo Nixon, que são complementados por scratches e colagens do Dj Basim. O clássico “Suíça Cearense”, do Gordurinha, abre a sessão.
Com 22 anos de carreia independente, Rapadura é um dos responsáveis por unir o rap ao imaginário nordestino. O primeiro disco oficial dele está previsto para ganhar o mundo ainda em 2020. “Depois que fiz a música Norte Nordeste Me Veste senti meu povo junto comigo em cada verso, me apoiando e pedindo pra eu continuar firme. Mensagens de amor e força me motivaram a compor esse disco”.
*Foto de capa: Paola Vianna
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