A música tem dado afago durante o (interminável) período de isolamento social. E não é somente no Brasil. O mundo vive a mesma “realidade”. Por isso, convidamos DJs, rappers, produtores, jornalistas e artistas para compartilharem as músicas que estão ouvindo durante essa fase crítica (que vai passar).
A responsável pela terceira playlist da série (as outras duas foram do Dr. Drumah e do DJ Duh) é a Núria Pinto, comunicadora, escritora, jornalista no Rimas e Batidas (desde 2016), idealizadora do podcast Terminal 1 (Rimas e Batidas/Antena 3), que é dedicado ao hip hop BR desde 2017, e DJ.
“A minha primeira arte foi a escrita, principalmente a poesia, e apaixonar-me pelo rap acabou por ser inevitável. É a forma mais genuína e completa de narrar realidades, aproximadas ou não. E o rap tem esta característica, não é?”, diz. “Ele pertence ao narrador, não se dissocia da sua energia e da sua vivência. Unir a música a esta viagem literária foi um no brainer para mim. Mas acho que durante um tempo, na minha adolescência, andei um pouco afastada do rap porque sentia que a escrita do que se fazia na altura, principalmente em português, não me conquistava”.
Uma das grandes conhecedoras do rap brasileiro (isso fica evidente na sua seleção), Núria diz que só voltou a se apaixonar pelas rimas feitas em português depois de ter vivido uma temporada em São Paulo. “É impossível ficar indiferente à vida que o gênero tem na cidade. É um privilégio poder ouvir tantos mestres da escrita na nossa língua. Tive a sorte de passar várias horas no estúdio com o Leo Grijó na altura em que ele estava produzindo o primeiro trabalho da Lay. Cheguei a ter aulas de discotecagem com o DJ Lx, que na altura, fazia com ele, parte dos Stereodubs! O Don L e o Jeivos, produtor da zona Sul de SP são algumas das amizades que fiz na época, com quem pude viver a cidade, e que mantenho com muito carinho até hoje”.
Logo depois de voltar para Lisboa, ela foi convidada para escrever no Rimas e Batidas, portal de rap de Portugal (uma das referências do RAPresentando). Assim, percebeu que poderia compartilhar seu conhecimento de RAP BR aos portugueses e estreitar relações. Nesse período, Núria Pinto fez uma série de artigos e entrevistas com diversos rappers brasileiro, entre eles estão Emicida, Zudizilla e Nill.
“Tem sido um dos trabalhos mais gratificantes, e de enorme responsabilidade, da minha vida. Não só porque me permite continuar a viver mais perto de um país que tem metade do meu coração como vejo que esta minha vontade de abrir espaço através da música, da escrita e da partilha tem sido incrivelmente bem acolhida por todos”.
