De uma forma sensível, a OZU trata de problemas que permeiam o cotidiano e cada vez mais tomam de assalto a cabeça. Apesar de carregadas, as ideias tratadas no álbum “Burnout” dá uma visão geral dos caminhos perversos que a humanidade caminha para satisfazer egos e o pernicioso mercado.
“Estágios avançados do capitalismo neo-liberal diluíram e terceirizaram as desigualdades de nossa sociedade a tal ponto que nos foi privado a percepção de reconhecer os males macroeconômicos que nos assolam”, dizem. “Assim, desorientados, seguimos atribuindo nossos problemas financeiros e emocionais a nós mesmos, desenvolvendo então uma constante sensação de culpa, preocupação e ansiedade”.
Ao bater o olho, o próprio título já entrega o que o ouvinte pode encontrar ao longo dos pouco mais de 46 minutos – distribuídos em 11 músicas. O que não fica tão evidente é o que se depara de fato ao longo da jornada de escuta.
Mesmo tendo o trip-hop e o lo-fi como parte de toda a estrutura, Juliana Valle (voz), Francisco Cabral (compositor/tecladista) e Sue-Elie Andrade-D vão para lugares distintos sem perder a direção. Há diferentes fusões, que passam pelo jazz, neo-soul, rap e R&B, mas determinar onde um sai para o outro entrar está fora de cogitação. Tudo está bem entrelaçado, e também se contrapõe na mescla de densidade com fervor.
Cada um dos temas, até os mais intensos, possuem leveza na execução. Seja nas interpretações ou na musicalidade, o fluxo corre sem pressa. E essa é exatamente o tipo de entrega que o trio pretende fazer. “É um convite a diminuir o ritmo das nossas vidas e olhar não só para o que está ao redor, mas também para nós mesmos”, afirmam.
Apesar da amarração bem feita, alguns sons se destacam mais que outros. “Pre date” traz uma crítica sobre a atual forma de consumo da arte, ao mesmo tempo que aguça os ouvidos com a estimulante sincronia das linhas de baixo com as marcações pontuais, orgânicas e bem carregadas da bateria. A que vem na sequência dela, “Out Of Reach”, mantém a estética, mas ganha uma espécie de sujeira, que a deixa ainda mais interessante.
Esses ‘ruídos’ também incrementam a ‘sombria’ “Project 101”, que tem o trip-hop como alicerce. Outra que merece atenção é “Burnout”. É dançante, com beats pontuados, ela simboliza o sintoma dos tempos atuais. Te convida para dançar, e a refletir sobre neoliberalismo tardio e a pós-modernidade.
Pelas diversas possibilidades atingidas, seria um erro colocar este disco em algum tipo de caixa. Porém, mais importante que rotula-lo é entrar na atmosfera criada e absorver as visões. “Queremos desconstruir e abstrair as primeiras intenções arquitetônicas para chegar em uma visão lúdica das grandes metrópoles que nos formam intelectual e musicalmente”.
*Foto: Mariana Harder