O Lollapalooza é um dos maiores festivais do mundo. Certo. Tem shows incríveis. Outros nem tanto. É real que o line-up atende os mais diversos públicos. Da estação pinheiros até o autódromo, uma diversidade de pessoas se apertam nos vagões do trem que encerra sua jornada no Grajaú. Nas conversas paralelas, os indivíduos se conhecem e revelam de onde são: Curitiba, Bahia, Rio Grande do Sul. Os estilos também são diversos. Mas as camisetas do Red Hot Chili Peppers são unanimidades. Estão por toda parte.
O trem para na estação do autódromo. Geral desce. As escadas se abarrotam. Fila indiana. Lenta. A pressa é um ingrediente que falta.
Na via sacra que leva até Interlagos, vendedores de tudo que se imagina abordam seus clientes. Água, cigarro, whisk, tequila, copo e uma quantidade incontável de produtos são oferecidos. A PM e a Guarda Civil Metropolitana estão na espreita. Os ambulantes ficam espertos. É grande o caminho entre a estação e o autódromo. Casas se tornam em comércio. Cervejas são vendidas aos montes. O sol queima. Chapéus e bonés ornamentam as cabeças.
No autódromo, a euforia é geral. A alegria estampa os rostos. A animação está presente no ambiente. Cervejas são consumidas. Fotos registradas. Muita coisa à venda. Filas começam a ser organizaras na frente dos stands das marcas patrocinadoras. Todos querem se divertir. Conhecer pessoas. Esquecer os problemas. As cenas se repetem nos dois dias subsequentes. É o mesmo filme com personagens diferentes.
Na edição de 2018, o RAP (e seus pares da música preta) teve seu espaço maximizado. Acompanhei os mais evidentes deles, para não dizer todos. No geral não tivemos decepções. O RAP só ganhou mais força. O Lollapalooza também mostrou que o público de RAP, r&b e suas vertentes está se expandindo. É obvio que não dá pra medir com exatidão, mas observando a concorrência por um lugar privilegiado antes dos shows se iniciarem deu para fazer uma média e chegar a uma conclusão. Por outro lado, os artistas pretos também têm ganhado mais espaço nos grandes festivais brasileiros. Que esse seja apenas o começo.
Rincon Sapiência
Rincon sob no palco. A banda é boa. Tem muito suingue. Mas a sonoridade foge da contida no disco “Galanga Livre”. A intenção de Rincon é levar uma outra experiência para o palco. Como já é tradicional, Sapiência usa uma saia xadrez. É excêntrico. Dança. Vai de um lado para o outro. Um dos momentos que levantou o público foi quando IZA entrou para interpretar “Ginga”, seu novo single que tem a parceria de Rincon Sapiência. IZA é sensacional. Sua voz “estronda”. Pesadona. A homenagem a vereadora Marielle Franco foi um dos pontos altos. Rincon cumpriu seu papel. Deixou ótimas impressões. E, apesar do razoável público, ainda conquistou uma galera que não o conhecia. “Se a coisa tá preta, a coisa tá boa”.
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Chance The Rapper
Aguardado com ansiedade, Chance The Rapper abriu sua performance com “Mixtape”, seguida de “Blessings”. Não teve quem não cantasse. De boné vermelho com o 3 estampado, Chance estava acompanhado de uma banda compacta. Mas que não devia nada a ninguém. Honesta. Como se ninguém o conhecesse, o MC se apresenta. Fala de Chicago e de sua música. Nos mais de 40 minutos que esteve à frente da plateia, Chance The Rapper apresentou canções dos álbuns “Acid Rap” e “Coloring Book”, além dos trabalhos paralelos feitos com outros artistas, inclusive o hit “I’m The One”, do Dj Khaled. Chance levou a igreja para o Lollapalooza. Envolveu. Se emocionou. Agradeceu pela oportunidade.
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Anderson Paak
No Sábado, 23, dos dois shows mais aguardados, um era o do Anderson .Paak. E ele não decepcionou. Performance impecável. Muita energia transmitida. A cada música, Paak se revezava entre o microfone e a bateria. Não poupava esforços. Sempre perguntava se o pessoal estava curtindo a festa. Delírios. Não dava pra ficar parado. Anderson .Paak entra para o rol dos artistas que “transmitem o mesmo poder” no disco (estúdio) e ao vivo. Magnífico. “Yes, Lord”. Ao final, a bateria recebeu as consequências da euforia. Paak a surrou. E saiu satisfeito.
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Mac Miller
Acompanhado do Dj e de um vocalista de apoio, Mac Miller fez a temperatura do palco Perry subir ainda mais. Mãos pra cima. Uma “porrada” atrás da outra. E os espectadores chegando junto. Miller dedicou um momento para mandar um “f&$@ Trump”. Pediu pra ser acompanhado no protesto contra o seu presidente. Teve que pedir três vezes. O povo não estava muito afim. Mac Miller entregou bem. Fez um show empolgante. A cortada de “tesão” se notabilizou no final de cada música. Elas eram tiradas abruptamente, como se tivesse ocorrido um problema técnico. Mas tudo certo.
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Mano Brown
Brown estava sendo aguardado desde de quando sua presença no Lollapalooza foi anunciada. Chegou o grande dia. De conjunto preto e vermelho da collab entre Puma X Fubu, o chefe entra de boina vermelha. A banda Boogie Naipe o acompanha. Duani mantém o groove em alto nível. Lino Kriz dá uma suavizada. O baile do Brown segue. Todas a músicas são do disco “Boogie Naipe”. Brown faz passinhos. O funk é de alto padrão. Mano Brown se localiza. Convoca a Zona Sul pra dançar. Mas não é bem assim. Os presentes estão na ZS, porém são de vários lugares. Alguns não entendem o show. Outros pedem para ele cantar Racionais. Brown não se importa. Mantém a baile. Don Pixote e Max de Castro abrilhantam ainda mais a festa. Mano Brown manda seus passos: um pra lá, dois pra cá. Na sua melhor forma. O MC/cantor fez um showwwwzaço. O Brown do Racionais MC’s é o Brown do Boogie.
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Mahmundi
Durante sua apresentação no domingo,25, a cantora agradeceu ao público por ajudar a colocá-la ali. Mhamundi afirmou que se fosse nos anos 80 não conseguiria mostrar seu trabalho neste tipo de evento. Enalteceu a conquista dos espaços. A performance foi impecável. Ao lado da compacta e poderosa banda, ela colocou geral pra dançar. Cantou “Olhos Colorido. Homenageou Marielle Franco. E a afirmou: “a revolução é fora do Facebook”.
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Tropkillaz
Acompanhado do Heavy Baile e convidados, entre eles Luccas Carlos e MC Zaac, o Tropkillaz fez a coletividade sair do chão. A aglomeração de pessoas foi intensa. Havia muita sensualidade e euforia envolvida. As dançarinas ajudaram a manter a temperatura alta. E mesmo com o calor intenso, todos se vestiam com os clássicos agasalhos Adidas , customizados com o símbolo do Tropkillaz. O show levantou a multidão. Foi um dos poucos com artistas brasileiros a reunir um grande público no longínquo palco Axe.
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Khalid
O novato e fenomenal Khalid mostrou que está pronto para “enfrentar” grandes multidões, apesar de alguns comentar que a música dele se encaixa em lugares menores. Antes mesmo de Khalid iniciar o show, a frente do palco Onix se encheu, da grade até o topo do monte. Cativante e carismático, o cantor de 20 anos entregou um show vibrante. Muitos que não o conheciam aprovaram o trabalho.
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Wiz Khalifa
Por algum motivo eu não esperava que o Wiz Khalifa arrastaria tanta gente. “Disputando” com o The Killers, o chefe da Taylor Gang estava agitado. Na companhia de um Dj, baterista, o tecladista e, claro, seu baseado, Wiz Khalifa me surpreendeu. Estava apostando que veria uma performance mediana. Mas o cara sabe fazer a roda girar. Tem um estilo bem parecido com o Snoop Dogg. Distribuiu alguns cigarros de maconha infláveis, que foram bem disputados. A fumaça imediatamente tomou conta do ambiente. Impossível ficar sóbrio. Porém, valeu a pena “pagar o preço”.
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Foto capa: Wilmore Oliveira | I Hate Flash