O nome de Fantastic Negrito dá uma visão do que se pode esperar ao ouvir seus sons. Ele não carrega rótulos, apesar de ter como base o blues, que se funde ao Rap, R&B, soul. A identidade dele foge os padrões. Mas sua entrega é efetiva. Chega aos ouvidos sem fazer curva. E isso acontece com todas as obras que o músico tem feito.
Isso não é diferente com “Have You Lost Your Mind Yet?” (Você já perdeu a cabeça?), seu terceiro LP [ouve AQUI]. Nas letras, Fantastic Negrito explora a luta e as complexidades dos problemas de saúde mental, enquanto continua seu exame lírico de longa data dos crescentes problemas sociais e políticos dos Estados Unidos. Sua inspiração vem dos seus estudos sociopolíticos vindos da América negra no final dos anos 60 e 70.
“Nos dois primeiros álbuns, escrevi sobre tópicos amplos. A proliferação de violência armada, gentrificação, falta de moradia e empresas farmacêuticas que atacam o povo”, diz Negrito. “Neste álbum, eu queria escrever sobre pessoas que eu conhecia, pessoas com quem cresci, pessoas cujas vidas eu poderia afetar pessoalmente e cujas vidas me impactaram. Foi o álbum mais difícil que eu já escrevi.”
Para que o todo seja consistente, as palavras presentes nas composições, os instrumentais e as parcerias são estrategicamente escolhidas: E-40, Tank and the Bangas, Masa Kohama. É um pouco mais que versátil. Fantastic Negrito sabe ousar na medida certa. Não exagera. Porém acerta o alvo, e diz objetivamente o pretende.
“O que eu quero dizer para essas pessoas e para o mundo? Se eu tivesse a chance, diria a eles a dor que estão sentindo, a escuridão pela qual passam é temporária – especialmente se você considerar o tempo de uma vida humana. Eu diria a eles que não podemos combater esses obstáculos sozinhos. Nós precisamos um do outro. Fique offline. Fale com as pessoas. Eu diria a eles que estou aqui por você. Não podemos nos esconder da dor. Precisamos olhar direito para isso. Realmente olhar nos olhos de alguém é sentir seu poder e sua vulnerabilidade, sentir a humanidade e sentir o amor.”
Nas suas construções verbais, Negrito ajuda a levantar a moral neste momento de crise que o mundo vive – e isso não se limita às questões relacionadas a pandemia do coronavírus. Compartilha suas experiência de vida para conscientizar, principalmente os jovens. “I’m So Happy I Cry” é uma das mais representativas entre as 11 músicas que compõem o álbum. Ele a compôs após a morte do rapper Juice WRLD.
“São tantos os jovens artistas que sofrem do que considero doença mental. Imagine ter tudo que você quer no mundo e ainda assim sentir a necessidade de se medicar até te matar. Há algo muito doentio – e trágico – nisso”, reflete. “Eu falo isso porque este filme tem se repetido, eu já vi antes, já estive nele e quero falar abertamente. Quero alertá-los de que estão cercados por pessoas e empresas que lucram com a destruição de suas mentes, corpos, almas e, em última instância, de sua comunidade. Eu sou um cara de meia-idade. Tenho filhos pequenos, então tento ser muito cuidadoso com o que estou divulgando para o universo. Se eu sentir que tenho alguma experiência ou sabedoria sobre um assunto, tento dar uma contribuição”.
De forma clara, e com uma musicalidade envolvente, Fantastic Negrito apresenta válvulas de escape para que de fato você não perca a cabeça no meio desse turbilhão.