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As únicas vezes que ouvi Monna Brutal foram nas músicas “Dollar Euro”, da Tássia Reis, e “Magenta Cash”, da Glória Groove. Me ganhou em poucas linhas. Me impressionou. Mas, o contato com o trabalho dela se limitou a isso. Talvez porque achava que Monna não tinha uma discografia, erros que acontecem pela falta de pesquisa e por deixarmos a curadoria automática dos serviços de streaming nos indicar o que ouvir.

Depois de ouvir o recente “2.0.2.1”, também dei o play no primeiro álbum dela, “9/11”. Mais uma vez pegou meus ouvidos. Há uma diferença estética entre os dois projetos, mas ambos se conversam e mostram a habilidade que a Monna tem para fazer seus versos em cima de diferentes backgrounds – do reggae ao trap.

No comparativo com o anterior, “2.0.2.1” está mais cru musicalmente e menos “agressivo” nas ideias. É total underground, inclusive no processo de criação. Como a própria disse na live da Twitch do Bocada Forte – mediado por jornalistas de diferentes portais [Danilo Cruz, Gil, Ana Rosa, DJ Yume, Mari Paulino] -, a produção e as captações de voz do disco foram feitos na sua casa (por ela e FR3ELEX), na zona norte de São Paulo, com todos os ruídos que uma quebrada pode proporcionar.

“Por já entender que meu trabalho 9/11 trouxe essa coisa da ira e da revolta, eu senti que com o tempo as pessoas foram tirando a minha possibilidade de amar, de sentir coisas, que não fossem só bonitas, mas também fossem simples”, disse Monna. Aí, eu fiz essa sequência pra poder realmente inserir a pessoa que ouve exatamente no contexto que eu quero colocar e na outra faixa eu já tirar e colocar em outra coisa. É uma proposta de uma trip, de uma viagem”.

 

 

A textura é rústica, experimental, suja – elementos que fazem parte do DNA “rueiro” do rap. Já nas rimas, Monna Brutal faz jus ao seu nome. Descarrega seu arsenal de forma precisa nos alvos que precisam ser atingidos. Porém nem tudo é ataque. “Fight” e “Neurose”são as mais incisivas, bem diretas. “Queen” tem todos os ingredientes necessários para entrar na lista dos DJs e estralar nas pistas.

“Eu quis resgatar a pessoa que eu sempre fui na arte… e nada mais digno de colocar os meus sentimentos pra jogo. Então, eu venho mesmo para trabalhar essa questão do potencial do nosso sentimentalismo”, observa. “A gente quer jogar fogo no racista, mas também a gente quer amar, a gente ainda quer dançar, quer se sentir rainha”.

As narrativas desse Lado A do LP (o Lado B está sendo arquitetado) se relacionam com o caos de 2020. Vale lembrar que antes da pandemia ser decretada, a MC tinha dado um fim na sua carreira musical. Mas, felizmente, mesmo sem recursos ou algum nenhum tipo de patrocínio, Monna retornou daquele jeito que ninguém para.

“Eu fiquei pensando: porra, já tomei tanto na cara, já passei tanta humilhação, já briguei com tanta gente pra simplesmente (agora) eu falar: não, eu não vou mais cantar, e é isso, jogo perdido? Nada! Vou estar aqui e vou produzir. Esta era a minha proposta: eu volto a cantar, mas eu volto sob uma outra perspectiva… como perspectiva de minha chefe”.

 

Indicamos também: Iza Sabino: “Glória veio pra testar a minha fé”. Leia aqui.

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