Mizu . Água em japonês. “Simples, transparente, que carrega uma verdadeira experiência de expressão”.
O selo de Lucas Romano e Matheus Ávila (Ney Beatz) – ambos moradores de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre – trabalha com a vertente do trap “plug“, que segundo Ney “mistura elementos de uma música mais pesada junto de sonoridades melódicas e também elementos futuristas”.
Diante de uma cena local ainda desunida, que pouco colabora entre si e, sendo pioneiros no gênero na cidade, Romano pontua: “eu quero que os jovens tenham noção de que eles também podem pegar referência da cidade deles. É isso que falta aqui no Rio Grande do Sul: o público ter confiança nos seus artistas, nos seus representantes”.
Falar sobre Mizu Inc é, no mínimo, dimensionar toda a complexidade do trampo dos meninos. Por mais que eu não siga a linha reações-análises, é impossível não citar a verdadeira experiência audiovisual que o selo proporciona. Eu venho escutando todos os dias, pelos últimos dias. Te convido a desacelerar também, para desfrutar de vocais suaves, slow bpm e uma forma única e rara de fazer rap.
https://www.youtube.com/watch?v=vjAHxzIbUhU
– “esquece o mundo que estamos e deixa essa aqui tocando…”
Quando os questiono sobre suas origens com a música, Ney comenta que tudo começou em um programa que simulava estúdio e, nessa experimentação, ali se deu um “processo de conhecer sobre a cultura, indústria e todo movimento que a música gera” e que, então, sua relação com a música foi desenvolvendo um caráter também terapêutico, capaz de transmutar momentos e sentimentos. Assim nasceu o produtor. Romano conta que em casa ouvia muita música brasileira e que o contato com o rap veio por intermédio de um primo mais velho. Ele cita que sua influência mais forte no rap foi o rapper Emicida nos tempos da Rinha, durante seu ensino fundamental. Desde então, ele nunca mais parou: de ouvir e de fazer rap. Romano é um artista nato (você precisa conhecer também seu EP com Emersxxn – “Confuso & Chateado”, uma das melhores obras já lançadas pelo sul).
O selo surgiu em uma sessão de estúdio, a partir da percepção que Ney e Romano compartilham acerca da música: o desejo comum de representar qualidade em um som simples, capaz de conectar ouvintes e artistas à este conceito. A formação oficial da Mizu é composta por ambos, mas também colaboram com outros artistas, como na faixa “Céu”, com Tvlyssxn, e também em singles futuros, com mais parcerias.
Bruce Lee, filósofo da cultura oriental, ensina que a água tem “capacidade de se adaptar”, bem como de “transmutar, inundar”. Hoje, com o modo líquido que nos relacionamos e consumimos, tudo flui muito mais rápido, inclusive acerca da ideia de hit. Ney conta que suas produções ocorrem de modo natural, em fluxo, mas que prezam muito pela qualidade. Por isso, acrescenta Romano, é importante salientar a complexidade do trabalho e, para obter tal resultado, o processo torna-se intenso e desacelerado.
No que se refere à criação, para ele, perpassa pelos pilares de equilíbrio e suavidade: “quando a gente está aqui compondo, fazendo música, não é só fazer música, sabe? A maneira como a melodia, o sentimento emocional, o beat, como tudo surge… disso tudo, de todo esse contraste, é poético”. Ney entende a música como uma linguagem e comunicação: “basta sentir o que o outro sente e é como se nenhuma palavra mais fosse necessária”.
Conversamos sobre referências e, entre tantas (de artistas independentes do soundcloud à Tássia Reis, da sétima arte à cultura oriental) recito aqui artistas locais trazidos, como o beatmaker da zona sul de Porto Alegre, Vennessy, e Emersxxn, que lançará um EP em breve.
Somos 70% água, o que falta para os 100%? Romano pontua que acredita em uma constante evolução, justamente pelo caráter experimental presente em sua obra. Sabe, entretanto, que as limitações técnicas são uma barreira expressiva, mas continua (felizmente) a criar e se aprimorar.
E o que podemos esperar desse promissor selo? Segundo seus criadores, mais singles no canal no Youtube, videoclipe do single “TESLA” pela Guetto Life Films, roupas/acessórios da marca e uma apresentação no Pepsi on Stage, em Porto Alegre, no dia 9 de novembro, pelo festival Rap in Cena, que contará com atrações de Djonga, Baco Exu do Blues, Cynthia Luz, Matuê, Sant, Froid, Lennon e Nonsense. Ingressos aqui!
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