A Marissol Mwaba é uma astrofísica em formação que estudou na Sorbonne, em Paris. Mas além de ser uma cientista com passagem pela mais tradicional universidade francesa, a cantora brasileira de origem congolesa tem um extensa vivência musical.
Aos 30 anos, ela tem no currículo os álbuns “Luz-A-zuL” (2016) e “Palavra Mágica Acústico Rec’n’Play” (2018), e marca presença nos vocais de “Principia”, do álbum “AmarElo” (2019), de Emicida, vencedor do Latin Grammy 2020. Teve suas composições “Notícias de Salvador”, parceria com o irmão François Muleka, e “Erro” gravadas por Luedji Luna nos discos “Um Corpo no Mundo” (2017) e “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água” (2020), respectivamente. Fez os arranjos vocais de boa parte das músicas (ao lado do irmão Muleka) de “O Amor é um Ato Revolucionário” (2019), disco do Chico César, que também canta. O mesmo acontece em “Não Sei Pra Onde”, do Rincon Sapiência com Mano Brown, que faz parte de “Mundo Manicongo” (nesta, ela também toca baixo).
Mais recentemente, Marissol fez outra participação com Rincon no single “Sol”, que exalta o calor da estrela central do Sistema Solar. “Não sei se está relacionado ao nosso signo mas temos muito em comum: produzimos nossas próprias músicas, tocamos, compomos e criamos e executamos muitas tarefas artísticas. Por conta disso, a Marissol é, entre as pessoas que conheço, talvez a que tenho mais facilidade de trabalhar, a que tenho mais sinergia no estúdio e foi incrível poder celebrar com ela”, diz o rapper sobre a conexão que tem com a também compositora e multi-instrumentista.
De voz sutil e acentuada, Mwaba flerta com o rap, mas bebe direto na fonte do alt R&B. Ambos estruturam o EP “Ndeke”, que aos poucos tem sido apresentado. “Chupando Versos”, feito em parceria com Linn da Quebrada, Drik Barbosa e François Muleka e beats de Lucs Romero, e “Marte” são dois dos três singles do futuro projeto. O último é produzido por Mônica Agena e recebe o Tuyo.
“Eles fazem um som original, com uma assinatura muito própria, ligada ao etéreo e às emoções, que tem muito a ver com a música. Quando ouvi a gravação fiquei muito emocionada”, diz sobre dividir o microfone com o trio formado por Machado e as irmãs Lio e Lay Soares.
Conhecedora do universo, Marissol coloca alguns de seus conhecimentos astrofísicos na canção de uma forma poética. O planeta que a intitula serve de referência, mas fica em segundo plano. O afeto é o ponto principal. Para a artista, Marte representa o lugar do aconchego.
“Lar é mais que endereço, é conforto, é história, é saber exatamente a medida de ligar o chuveiro pra água vir do jeito que a gente gosta”, observa. “Lar também tá no olhar: ao lado e ao espelho sentindo carinho e amor. Essa tenda de afetos me tira os pés da Terra que estou, me tira a mente de tudo que eu gostaria que fosse diferente e me leva pra um aconchego que parece até de outro mundo. Esse mundo eu chamo de Marte. Na minha mente, é meu cantinho onde tem tudo de melhor da Terra e tudo que chamo de lar no meu coração. Família, amigues, minha casa, meu dengo, música, pão de queijo, a lista não tem fim.”
A viagem a esse mundo cheio de amor pode ser feita de uma forma simples e gratuita, sem a necessidade de nave espacial e roupas especiais. A música, na visão da multi-artista, proporciona “esse espaço íntimo de afeto para um lugar coletivo, que contempla uma fuga saudável das dinâmicas da realidade. São lugares formados pelo teto das relações que geram um lar amoroso que não é deste mundo, enquanto nos lembram da necessária noção de amor próprio”.
Mais do que pronta, Marissol Mwaba ainda tem muito para explorar. Tudo o que ela fez até aqui, mostra o potencial que ela tem para alcançar os mais diversos ouvidos.
*Foto: José de Holanda
