Parte da chuva prevista para São Paulo já tinha caído, o frio deu o ar da graça depois de muito tempo e o barro tomou conta do gramado do Autódromo de Interlagos. No Palco Samsung Galaxy do Lollapalooza, Dexter subiu acompanhado da sua posse: Dj Will, Dj Lu, Fernando Tristão, Gregory e Andrézinho Motta. Já no início, o MC chamou atenção, apresentando dados no telão, para o sistema carcerário brasileiro: mais de 68% do total de pessoas presas são negras, o que representa mais de 422 mil pessoas”.
Após uma rápida introdução, ele veio sequencialmente com “Oitavo Anjo” e “Saudades Mil”. O esperado era que ambas fizessem o encerramento, porém, ele tinha outros planos, separando o show em duas partes. Na primeira, com figurantes usando roupas que remetia às prisões paulistas (camisa branca e calça bege) e simulando presidiários no convívio, andando de um lado para o outro, jogando cartas e fazendo exercícios, Dexter apresenta a sua fase 509-E, quando começou a sua redenção pelo rap ainda exilado.
“Os 50 anos de hip hop foram comemorados no ano passado, eu tenho 30 anos de caminhada e hoje estou no Lollapalooza. Tudo isso acontece, ou vem acontecendo, porque a gente ama o que faz”, disse Dexter antes de fazer o público (que aguardava Luísa Sonza) sentir o clima das periferias do BR com “Sou Função”.
Ao finalizar a parte inicial com os versos finais de “Diário de um Detento”, os figurantes (entre eles o Dj Cia) entraram em conflito, como aconteceu no dia 03 de outubro de 1992. Ao fundo, apareceu imagens do filme Carandiru com presos sentados no pátio. Do meu lado, uma menina (branca) filmando o ato, sorriu e comentou com seu companheiro: “que legal”. Obviamente, ela estava falando da encenação. Mas, não era propício. Aquele momento representava a transformação de um ex-presidiário, que passou pelo Carandiru, para um dos mais influentes artistas do Brasil.
No ato final, Dexter está “mais sóbrio”, todo de branco, inclusive os óculos, e com seus parceiros de apoio de vermelho. O cenário também mudou, passando da cadeia para um bar, com mesa de sinuca e pebolim. Antes de entrar para mais alguns minutos de raps, uma voz narra a carta de antecipação da sua liberdade. A releitura de “Voz Ativa”, feita em parceria com Djonga e Coruja BC1, foi uma das que fizeram parte do setlist. Relembrando a sua trajetória, o rapper de Guarulhos convidou o Kawe para também contar a história dele com “De 90 pra Cá”.
Antes de encerrar, o Oitavo Anjo honrou suas referências negras, de mano Brown a Zumbi, passando por Sueli Carneiro, Djonga, Preto Zezé, Silvio Almeida, Mariele Franco, Jorge Ben, Malcom X, Nelson Mandela, MV Bill, L7, Paula Lima, André Rebouças.