Assim que o BaianaSystem entrou no Palco Alternativo, a chuva se intensificou. Parecia algo programado, porque quanto maior a intensidade do show, mais forte a água caia. Nem por isso, Roberto Barreto, SekoBass e Russo Passapusso deixaram de fazer o que sempre fazem: tirar todo mundo do chão. Colocaram fogo no frio e fogo na chuva. O público também não arredou o pé por causa do aguaceiro e do lamaçal que tomou conta do gramado do Autódromo de Interlagos.
Como sempre, eles não pararam um minuto. “Saci” deu início com o próprio fazendo suas estripulias no palco e também na pista, abrindo a primeira de muitas rodas. Fizeram um show de rock, pesado, com o forte tempero baiano e pitadas da diversidade musical latina. A responsável por dar esse toque de latinidade, representando o romantismo hispânico, foi a cantora chilena Claudia Manzo, que fez a segunda voz em quase todas as músicas e teve seu momento de protagonista em “Sul-Americano”.
A música colocou ainda mais fogo na chuva com uma versão especial de pontos altos e baixos, amarrada pela salsa interpretada por Claudia. Quem estava mais próximo do palco, um pouco distante da lama, bailou. Russo a todo momento pedia mais valorização à cultura brasileira e sul-americana, inclusive chamando a atenção para que os festivais abram mais espaço aos artistas locais. Para ressaltar esse ponto, fazia questão de repetir a frase “A nossa cultura em primeiro lugar” – que tem se tornado um movimento do coletivo.
Mesmo seguindo um padrão musical conhecido, fazendo a alegria do povo explodir em algumas, como “Lucro: Descomprimido”, “Cabeça de Papel” e “A Mosca”, e chamar a atenção com “Certopelocertoh” e “Balah ih fogoh”, ambas com participação do Vandal – mas a última interpretada somente por ele -, o BaianaSystem não fez uma performance como as outras. Saíram do óbvio ou do que estavam esperando, tendo como régua o furdunço do Navio Pirata. Também mantiveram a postura em meio a incessante chuva e a concorrência do The Offspring, que tocava no mesmo horário.
Por outro lado, mostrou o quanto a música feita no Brasil precisa estar cada vez mais nos line-ups dos grandes festivais, mesmo que não sejam tão conhecidos do grande público. Eles servem para apresentar novas experiências sonoras para quem está na busca de mais do mesmo. Que de fato, a nossa cultura esteja em primeiro lugar, onde ela precisa estar: dentro do nosso território.