“A gente cresce aprendendo tudo errado. Dizem que a gente não pode, que se você é preto não vai chegar a lugar nenhum, que se você nasceu pobre na favela vai morrer nessa condição. Não, mano, os jovens que fazem música precisam entender de negócio e correr atrás do dinheiro. Você só não pode se corromper ao ponto de virar um mercenário e passar por cima das pessoas por causa dinheiro”.
Enfático nas palavras, Lucas Daniel de Oliveira Martins tem metas bem traçadas. Algumas delas já foram concluídas, outras planeja ir completando no decorrer da caminhada. “Eu sou uma pessoa muito sonhadora. Sonhar sempre me mantém vivo. Muitas das coisas que eu profetizei se tornaram realidade”, afirma. “Tinha o sonho de ser produzido pelo Humberto Tavares (Anitta, Ludmilla), consegui. Também sonhei ter minhas músicas interpretadas por grandes artistas, e isso está acontecendo”.
Artisticamente conhecido como Lionel, o cantor e compositor baiano, residente em São Paulo, fala tranquilamente, como se estivesse cuidando para não forçar a voz. Poucos dias antes da conversa via Zoom, a canção dele feita durante um camping de composição, juntamente com a Carol Biazin, Tiê Castro, Lucas Vaz, Nairo e Tonny Hyung, ganhou o mundo na voz de Cláudia Leitte.
“Escrever ‘De Passagem’ pra ela foi um bagulho de sentimento. Olhei pra Cláudia, senti a energia e cheguei pra galera que estava escrevendo comigo e falei: a energia dela está me tocando desse jeito. Se a gente fizer algo dessa forma, com certeza ela vai gravar”.
Essa é apenas uma de mais de 2 mil composições feitas desde o ensino fundamental, quando tinha 12 anos. O desinteresse em estudar despertou a vontade de escrever. Ao invés de prestar atenção ao que estava sendo ensinado, ele se isolava para criar poesias, que logo se converteram em canções. A estratégia parece fugir da lógica, mas Lionel garante que tudo fluiu naturalmente.
Colocar no papel sentimentos, vivências e experiências com facilidade não aconteceu da noite para o dia. O exercício e a dedicação total ao que mais gosta de fazer foram essenciais para chegar a um nível quase próximo à perfeição. O mesmo não aconteceu com o futebol, que tinha tudo para se tornar seu principal ofício, porém, teve de ser abandonado pelo fato do então jogador não estar 100% conectado. No caso da música, foi completamente diferente.
“Era um bagulho muito louco porque as pessoas não botavam fé. Então, eu tive que desbravar”, revela. “O primeiro ponto de pensamento foi mudar a vida da minha família. Eu tirei isso como motivação e isso foi me conduzindo. Aí eu entendi que pra você ser um cara muito brabo em algo, você tem que se dedicar muito. Então, eu ficava 24hs por dia compondo e cantando em todos os estilos. O que fez a diferença foi essa sagacidade”.
OFF
“A arte só não é um negócio quando você faz por hobbie, pra você. A partir do momento que você coloca um preço, ela se torna um negócio. Graças a Deus eu tenho uma visão nua e crua das coisas, não fico criando balela, querendo justificar porque a arte não vende tanto, porque não está em tal lugar. Não está por causa do pensamento. Se a pessoa quer viver de arte, ela tem que ganhar dinheiro com aquilo”.
POUCA MÍDIA, MUITO HIT
Fora dos holofotes do mainstream, mas com alguns milhões de visualizações no Youtube, principalmente com o vídeo de “320″, e quase 900 mil seguidores no Instagram, Lionel possui estratégias para que o seu nome figure entre os grandes hitmakers da música pop brasileira, fazendo a união de R&B e trap.
“Acho que estou em busca da cereja no bolo”, ressalta. “Pra mim é a sonoridade mais perfeita. Aquela sonoridade que vai me levar para o Top 1 Global. Depois é só curtir a onda. Por muito tempo fiquei pensando se soaria soberbo e arrogante querer uma coisa dessa, mas com o decorrer do tempo eu saquei que quem chega lá é quem se dedicou mais, que trabalhou mais, que lutou mais”.
Para exemplificar sua afirmação, o artista observa que a música só entrega o que você entrega para ela. Se der 100%, ela retorna 100%. Esse é o modus operandi que tem seguido nos últimos 9 anos. Agora, a concretização dos seus planos iniciais será com o álbum “Poka Mídia Muito Hit”. Tanto as ideias quanto o título surgiram despretensiosamente.
“Estava num momento não legal de vida, e tomando banho Deus falou comigo assim: você vai lançar um álbum ano que vem (2022), vai ter 12 faixas e 12 clipes. Ouvi a voz falar comigo. Não entendi, mas fui pra cima”.
Seguindo as orientações da visão sobrenatural que teve, Lionel seguirá a mesma estética musical do que vem fazendo, mas com alguns elementos que o próprio considera inovadores. Isso é complementado por um conteúdo lírico, que faz uma mescla da sua história de vida, sonhos e romance. Tudo muito bem compactado para atingir o maior número de pessoas.
“O muito hit é pela facilidade que eu tenho pra fazer a música que vende. E tipo, de qualquer forma. Qualquer ideia pode virar um hit, ser vendável”, ressalta. “Tudo é a forma que você faz, o nível de profissionalismo que você faz aquela coisa. Quando eu faço uma música, eu imagino como as pessoas vão cantar ela em diferentes lugares. Só que dentro de tudo isso tem a parada do sentimento, da energia, da atmosfera. Juntando tudo isso vira o hit”.
Mais que fazer arte, atingir números altos e mostrar todo o seu potencial, o cantor pretende se conectar ainda mais com seus ouvintes e furar as bolhas para conquistar outros. Tem ambições para chegar em lugares que parecem inalcançáveis, mas está disposto a ir além. “O amor pela arte já é necessário para que eu tenha esperança. O fazer o hit é a junção do que é a minha arte”.