Aos 14 anos, Laiz decidiu sair de casa para conquistar a liberdade. A decisão precoce de deixar a família foi tomada por não se adaptar a uma vida religiosa. Mesmo que a música não fosse proibida, tinha suas limitações por causa das regras dos Testemunhas de Jeová. Por isso, ela só foi mergulhar de vez no hip-hop quando chegou a Berlim, na Alemanha, depois de um tempo nos EUA. Aqueles jogos líricos dos MC’s, logo a estimularam a empurrar as portas giratórias e voltar os olhos para o Brasil.

Assim, conheceu a obra de Marcelo D2, o que reacendeu seu amor pelo samba através do rap e da poesia. Laiz credita essa “descoberta” ao icônico álbum de Tom Zé, Estudando do samba, de 1976. Servindo como um farol, o icônico álbum de Tom Zé, Estudando do samba, de 1976, guiou a cantora e rapper para criar sua própria identidade musical, com elementos da música brasileira e do underground musical soulful da Europa.

Essas fusões e texturas estarão presentes no seu primeiro disco, “Ela Partiu”, que será lançado em 13 de setembro pela Agogo Records. O título faz referência ao clássico de Tim Maia, de mesmo nome, e reflete a saída dela dos laços parentais. Por isso, a emigração é o tema principal das suas composições.

Toda a gravação aconteceu na cidade alemã de Hildesheim, em 2023, em um estúdio que se tornou uma espécie de centro de acolhimento da comunidade criativa, onde os artistas ficavam por algumas horas ou dias, vivendo lado a lado e ajudando a criar um projeto que discute tópicos sobre colonização, êxodo e diáspora.

Por tratar de um assunto que se relaciona com diferentes realidades, ela convidou artistas pan-africanos para colaborações: o trap-rapper sudanês Zeyo Mann, o percussionista e cantor ganês Eric Owusu (Jembaa Groove, Pat Thomas) e a cantora marfinense VOVA. A produção é assinada por young.vishnu & Patchakuti, da The New Love Experience.

O single “Tipo Assim” dá uma primeira amostra do que virá e a desenvoltura de Laiz nas rimas em cima de uma base funk old skool, com elementos de afrobeat. Agora em “Carcará”, ela apresenta sua ginga.. A bossa é quem direciona com uma pitada de jazz e samba, para que ela enalteça o sorriso dos seus conterrâneos. “Este lugar místico não pode ser encontrado em um mapa, mas nas entranhas de um bom amante”, canta. “Nós não somos a Disneylândia. E a realidade sempre volta com tudo”.

Na base, “Ela Partiu” é estruturada por um rap clássico, que remete aos anos de 1990, porém não se limita a ele. É orgânico e diverso, assim como as diferentes culturas que ela agrega trazendo para perto um grupo altamente talentoso de músicos emigrantes de todos os cantos do globo.

Nas 14 músicas que o compõem, algumas são para balançar a cabeça, outras para batê-la e fazer o corpo dançar. O interessante é que Laiz mantém sua língua materna nas interpretações, mesmo estando um bom tempo longe, e também o suingue que só encontra no BR. É alegre, mas levanta questões sérias. Traz um frescor no meio de tanto rap com a mesma receita, falando de assuntos que não se encaixam na realidade da maioria.