Fugir do óbvio é arriscado. Mas Katze parece não ter medo de correr riscos. Para criar sua própria identidade, ela busca referências nos conceitos da antiguidade oriental.Suas experimentações resultaram nos surpreendentes 25 minutos de “Fratura Exposta“. É místico. Reflexivo. Tem a densidade necessária para fazer o ouvinte refletir, viajar para outra atmosfera.
“Reconhecer é o primeiro passo para a cura, por isso eu exponho a fratura. A gente só tem certeza que algo está errado no nosso corpo quando sentimos dor, ela nos impulsiona a tomar uma atitude”, diz. “Ao expor o que está quebrado em mim, eu reconheço o que e onde dói e acolho o que sinto”.
Esse sentimento está na estrutura (de certa forma) psicodélica do disco. Katze não esconde suas dores. A cultura do Oriente serve como guia. É por isso que suas composições possuem referências do Samsara, “um conceito budista e hinduísta que pode ser descrito como o ciclo incessante de morte e renascimento, em que o indivíduo só se liberta quando alcança o estado de nirvana”, o Oráculo de Kuan Yin, deusa adorada em diversas culturas orientais, a flor-de-lótus, o Shiva (que na tradição hindu representa o que destrói para construir algo novo, motivo pelo qual muitos o chamam de “renovador” ou “transformador”). Em “Estar Less” (ou mal-estar), Katze se une ao Bface para “lamentar” sobre os momentos insanos propostos pela vida. Toda a arquitetura do som dá uma visão ampla do que pode ser ouvido nas outras 9 tracks do LP.
“Essa música saiu em 2018 quando chamei o Bface pra fazer um som. A gente meio que resolveu tudo (letra e produção) em um único dia. Mas foi esse ano que nos reencontramos e demos uma repaginada na produção dela, que conta com sample da música “Starless” do King Crimson. Como é uma canção sobre mal-estar, acabamos fazendo esse trocadilho infame com o nome (risos).”