De fato, Kanye West estava tramando algo [adiantamos AQUI]. Os encontros batizados de Sunday Service foram apenas ensaios para aquilo que se tornou a [histórica] performance no Coachella Valley Music and Arts Festival. E foi da maneira dele. No monte, sem palco, no domingo de Páscoa. Tudo planejado para impactar. Mas poucos sabiam o quão seria impactante, inclusive o próprio idealizador, que se derramou em lágrimas, mostrando que aquela celebração representava algo maior que seu próprio ego, muitas vezes exposto sem medir as consequências.
“Houve uma manifestação de fé”, diz o rapper L-TON. “O nível de arte e devoção a Deus foi interessante. Kanye West mesclou tudo que ama na música e na arte e ofereceu em formato de culto convidando quem quisesse fazer parte colar. Juntou seus amigos de Chicago e fez um culto sem se importar com mais nada. Como um amante de arte e música clássica, ele me lembrou os monstros do passado, como Bah, Bethoven, Mozart (na música) e Michelangelo (na arte), que fazia faziam suas obras mirando o divino e nos brindavam com excelência, vanguarda e emoção.”
Essa emoção também pegou de surpresa quem não estava presente em Indio, na Califórnia, mas pôde acompanhar todo o espetáculo através de um pequeno círculo, uma espécie de olho mágico, no centro da tela. Foram 2 horas. E poucos se irritaram com aquele obstáculo, que impedia a ampla visão. Enfim, era a única opção para observar a genialidade de Kanye West. Mas isso foi apenas um detalhe.
Yeezy conseguiu juntar pessoas de diversas religiões para acompanhar o seu culto cristão [com direito a pregação, oração e toda a “mística” da igreja negra] na companhia do, agora, reverendo DMX, Chance The Rapper, Teyana Taylor, Kid Cudi, Ty Dola $ing. No repertório, ele juntou aos seus sons alguns clássicos do R&B, Soul e do Gospel, música enraizada na cultura afro-americana [abordo os detalhes no livro “A Indústria da Música Gospel”, mostrando como no Brasil esse gênero foi completamente modificado e mercantilizado]. Das 32 canções apresentadas estavam algumas dos icônicos Kirk Franklin, Shirley Caesar, The Clark Sisters, The Jones Girls, Stevie Wonder, Fred Hammond, Marvin Sapp.
Yeezus voltou às origens. Levou para um público majoritariamente branco, toda essência da arte musical negra. Quebrou paradigmas / preconceitos. Mostrou o outro lado da história. E fez história. “Transformou a água em vinho” [isso estava explicito na coloração das roupas que vestiam]. De alguma forma, ele aproximou as pessoas de Deus, mostrando que para estar perto Dele não é necessário seguir as regras preestabelecidas pelos homens e seus métodos religiosos.
“O #sundayservice foi exatamente para nos mostrar que podemos sim nos mantermos fiéis e espirituais. E que os conceitos do que é fé e religião estão ultrapassamos. Kanye fazer o Coachella entrar na unção e louvar, isso sim é propagar o amor de Cristo por onde estiver. Que Deus abençoe a vida do Kanye e de todos nós”, escreveu a empreendedora / digital influencer Monique Correa.
Não é possível dizer se esta foi ou não a redenção de Kanye West. Como humano, está suscetível a cometer muitos outros erros. Muitos, de antemão, o perdoaram. Converteram-se ao evangelho dele. Kanye se tornou um exemplo de que todos tem a possibilidade de se levantar e seguir de cabeça erguida após uma série de “erros”. O “mesmo” aconteceu com Pedro, depois que negou Jesus 3 vezes. Não se resume a um espetáculo. É sobre superar os obstáculos. E afirmar sua posição no mundo.
Indicamos também: Blitz the Ambassador explora a cultura africana no filme “The Burial of Kojo”. Leia aqui.