Acompanhando o pai (Aluísio) nas apresentações de música sertaneja em bares, Kadri se apaixonou pela música. A influência dele foi essencial para que ela mostrasse – desde a infância – os seus talentos como intérprete e compositora.
“Quando eu comecei a ler e escrever, eu comecei a ter noção das palavras”, diz ela ao RAPresentando. “Acho que, com onze, doze anos comecei a escrever algumas coisinhas, com quinze escrevi “Mama África”. Essa foi a primeira que escrevi com estrutura, finalizada com algum sentido, sabe? Olhei e falei: ‘Essa música aqui tem potencial para ser um som, que eu posso lançar’. A partir daí fui pegando o jeito, a técnica, e não parei mais”.
A jornada da cantora/MC paulistana teve iniciou oficialmente em 2013. Desse período em diante, ela foi vocalista e compositora da Reggae Band, de Brasília, integrou o Giro Cultural da prefeitura de São Paulo, venceu (por voto popular) em 2019 o concurso cultural do Rap Box e ganhou ainda mais visibilidade.
Agora, aos 25 anos, Kadri estreia com o álbum “Eva”, produzido pelo Ost. A personagem bíblica do título serve como guia para que diversos assuntos da sociedade atual sejam abordados.
“Temos aquele gene mitocondrial que veio de uma mulher africana. Então, todos nós (mulheres e homens) possuímos esse gene, somos ego”, afirma. “A partir disso quis dar uma personalizada na história porque tem vários pontos de vista. Eu não acredito que seja exatamente como foi contado. E o objetivo é afrontar mesmo, é uma afronta à sociedade, ao patriarcado, à “família tradicional brasileira”. Acho que cada um vai enxergar de uma maneira. Então, acho que muita gente vai gostar, outras não, e acho que isso é o legal da coisa: mexermos com o sentimento das pessoas, sabe?”
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“As minhas referências foram internacionais, assim como a estética foi uma coisa bem lúdica, bem diferente, bem a frente do tempo. Questão dos beats, eu quis também seguir uma linha mais gringa, bem atualizada”.
A estética das bases usadas também não seguem um padrão. Possui texturas diversas, que se conectam ao tipo de ideia que ela pretende passar. Para chegar a este resultado, as músicas passaram por várias mudanças. Da composição a produção, o desenvolvimento levou cerca de 1 ano. “Foi tudo bem natural. Comecei a compor várias músicas, até para poder me encontrar musicalmente e a partir dessas músicas fui selecionando as melhores”, observa.
Para acompanha-la nessas ideias, Kadri escalou a rapper Bivolt, Duzz, Abbot, Mikezin e Ojan. “No decorrer da produção acabei encontrando várias pessoas bacanas, conheço vários artistas fodas, que sou fã, e contei pra eles que estava fazendo um álbum. A Bivolt, por exemplo, na hora que contei já disse: ‘vamos escrever agora’. Aí, escrevemos juntas. Foi bem natural, a partir da sintonia musical e de vida. Tô muito feliz e realizada”.
Os temas abordados vão para diferentes caminhos. Inevitavelmente, o dedo é colocado na ferida (em alguns momentos chega com um tapa na cara). Mas a artista não foca somente nas dores. Também fala de autoestima, amor (naquele estilo rua), representatividade e vivências cotidianas. Reflete sobre o status quo atual, mas tem uma certa atemporalidade. Foi feito com um certo cuidado para que continue relevante com o passar dos anos.
“As músicas nascem de sentimentos e experiências pessoais, coisas que a gente vai acumulando e até observações de vivências alheias, né? Não só coisas que acontecem comigo, a gente consegue expressar e vem do nada. É claro que, certas vezes, quando tem prazo para entregar, temos que escrever a letra e dá um trabalho. Só que minhas melhores músicas vieram do nada, quando eu não estava esperando (à noite). Aí, já tenho que escrever, senão esqueço, igual meu pai”.