Diferente do que se imagina, o R&B não surgiu ontem no Brasil. O que tem acontecido recentemente é um movimento para reavivar uma cena que ficou por algum tempo em segundo plano no radar da música pop. Podemos dizer que essa mistura de ritmo e blues ganhou identidade brasileira nas vozes de Cláudio Zoli, Max de Castro, Luciana melo, Patrícia Marx, Silveira, Pedro Mariano, Simoninha. Rotulados como a “nova MPB”, eles tiveram projeção de mercado e alguns até entraram na “seleta” (e muitas vezes excludente) lista do pop.
Após o sucesso e o declínio (nos últimos 10-15 anos), o R&B do BR está voltando fortalecido por uma nova geração, que apesar de ainda não ter aporte da indústria tem feito a roda girar com a força da internet. Um desses artistas é Jean Tassy. Pouco a pouco o cantor brasiliense tem conquistado espaço, público e destaque nas plataformas de música digital, onde já ultrapassou mais de 100 milhões de streams. Essa construção foi feita com uma série de singles, participações e EPs. Agora, ele solidifica seu trabalho com o álbum “Amanhã”.
Antes dele, Tassy preparou o terreno com os EP’s “Anteontem”, “Ontem” e “Hoje”. Nos três, o boombap faz o encaminhamento. Mas nos quase 37 minutos do disco, o R&B toma conta. “Essa é uma nova versão de mim, mais completa e madura”, observa. “Ainda não mostrei quem realmente sou como artista e acredito que no álbum as pessoas conseguirão enxergar outros lados de mim”.
Realmente, Jean Tassy dá uma visão ampla das inúmeras possibilidades que pode explorar. A voz dele é marcante, facilmente identificável. Pode-se dizer que os seus timbres são puros e sóbrios. Existe um certo equilíbrio na impostação, nada muito forçado. Somente isso não garante consistência, porém as produções do Iuri Rio branco ajuda na nivelação. A textura agrada diferentes ouvidos. Tem muita influência das ruas, mas facilmente conversa com o pop – podendo emplacar nas rádios [e futuramente nas pistas] “Cadê Nosso Sol?” e “Sem Coração”. É tudo na medida, sem exageros, inclusive na escolha dos convidados [Marina Sena, Fleezus, SPVIC (Haikaiss), Don e Davi Sabbag].
Todo o conjunto de “Amanhã” mostra que mesmo neste momento de liquidez musical é possível fazer um long play coerente, sem canseira ou enjoos, e com experiências distintas, dependendo daquilo que se espera. Dessa forma, Jean ajuda a fazer o levante do moderno R&B tupiniquim.