A Europa tem se tornado um ambiente propício para o desenvolvimento de um tipo de “jazz fusion modernizado” que tem conseguido dialogar com ouvidos desacostumados com o tradicional. Obviamente, a roda não está sendo reinventada. Miles Davis, Marcus Miller, Herbie Hancock, Azymuth e Chick Corea também fizeram suas transformações para levar o jazz a outro patamar e expandir ainda mais o seu alcance. O mesmo pode se dizer de Madlib, Robert Glasper, Terrance Martin, Yussef Dayes, Makaya McCraven, Tom Misch, Alfa Mist, Nubya Garcia e Esperanza Spalding.
Inspirando-se nesses e outros, o Jazzbois tem colocado elementos de lo-fi, downbeat, rap e doses de psicodelia em suas produções, que começaram a ganhar visibilidade após uma apresentação no Bankito Festival, em 2018. Depois do destaque na Hungria, assinaram com a Blunt Shelter Records e em uma sessão de 4 horas gravaram Jazzbois Goes Blunt, o seu disco de estreia.
Assim que chegou ao streaming, várias músicas foram selecionadas em playlists editoriais no Spotify e na Apple Music. Mas apesar do sucesso online é no offline que o projeto ganha vida. Como todas as músicas são gravadas na hora e editadas na pós-produção, elas precisam ser aprendidas novamente ao longo das performances. Por isso, ao vivo, eles nunca tocam nada do mesmo jeito duas vezes, mantendo a característica da essencial do jazz: o improviso.
Com três álbuns, alguns singles, vídeos, milhões de streams e ingressos de diversos shows esgotados, o trio húngaro formado por Bencze Molnár (Rhodes/sintetizador), Viktor Sági (baixo) e Tamás Czirják (bateria) está na busca por uma mudança de cenário e ritmo. O mais recente álbum deles, “Higher Dimension Waiting Room”, mostra em qual direção pretendem seguir.
O processo criativo começou como uma sessão improvisada num ‘estúdio caseiro’ nas colinas de Szentendre, no noroeste de Budapeste. “Originalmente íamos cozinhar, sair e saborear alguns cogumelos, mas acabamos gravando dois dias na sala”, dizem. “Este álbum é uma marca do tempo que passamos juntos, das emoções e expressões musicais que vivenciamos naquele ambiente incrível”. O encontro peculiar foi primordial para que criassem 10 músicas fluidas, que se conversam a cada transição, dando a sensação de continuidade, como se fosse uma mixtape guiada por sintetizadores e batidas, que se fundem do final de um som com o início do outro.
Esse fade in-fade out transmite sensações que não te deixam abandonar a audição, pois as ondas sonoras te carregam. Isso não quer dizer que existe uma conexão entre cada uma das faixas, porque cada uma tem vida própria, e funciona muito bem sozinha, porém, para ter toda a experiência recomenda-se ouvi-las sequencialmente – inclusive no aleatório. É cósmico, psicodélico, potente, magnético.