A previsão de tempestade não foi suficiente para tirar o foco dos breakers presentes no INSTAX FUJIFILM Undisputed, em São Paulo. A tarde de sábado (19) estava cinzenta. Os chuviscos deram um alívio ao calor. Porém, isso só aconteceu na parte de fora da Áudio. No lado de dentro a temperatura estava altíssima. O lugar que sempre recebe grandes concertos, foi tomado pela dança que mais representa a rua: o break. Ali, a pista se tornou palco para os artistas mostrassem todas as suas habilidades e movimentos. Não faltou disposição..
Ao longo do dia todo, dançarinos de diferentes idades e origens tiveram oportunidade de colocar em prática todo o seu repertório de movimentos. No período classificatório, as batalhas foram disputadas em 4 cyphers. Em cada uma delas, os olhares atentos dos jurados determinavam aqueles e aquelas que seguiriam para as fases seguintes. Quem estava julgando, tinha bagagem para tanto: B-boy Storm, da Alemanha, um dos grandes ídolos mundiais do break, Kareem (EUA), Kevin Renegade (Reino Unido) e os brasileiros Andrezinho, Migaz, Miwa, Mixa e Negão. Os critérios avaliados foram “melhor técnica, variedade, controle e execução”; “melhor reação de desempenho ao momento, à música e ao seu oponente”; e “criatividade”: quem demonstrou caráter e personalidade claros e foi capaz de adaptar e personalizar melhor a dança.
Os breakbeats, elemento essencial para que os dançarinos coloquem em prática as suas manobras, ficaram sob a responsabilidade dos DJs MF, Batata’Killa e do holandês Nobunaga, que não deixaram a cadência cair em nenhum momento, inclusive nos intervalos.
“Se você parar para pensar, o break é o único elemento dentro da cultura Hip Hop que consegue reunir os quatro elementos, 100%”, observou o b-boy Pelezinho, um dos ícones do Breaking do Brasil. Ele também ressalta que tem uma nova geração surgindo para dar uma evidência ainda maior à dança, que em 2024 se tornou modalidade olímpica – pela primeira e única vez, até o momento. “Muitas crianças estão dançando no Brasil. Se você olhar para os Estados Unidos, Japão, China e Coreia, tem uma galera da nova geração que tá vindo muito forte. Eu acredito que o Brasil tem esse potencial, do mesmo jeito que a galera, pô, começa a jogar bola, que tem o sonho de ser um jogador de bola”.
Quem esteve no Undisputed pôde constatar que a base vem forte. Exemplo disso foi a final solo da categoria Junior que teve um embate de alto nível entre Spider e Samukinha. Ambos chegaram ao top 8, de um total de 22 participantes. Após 3 rounds bem disputados, Samukinha sagrou-se campeão. Entre as mulheres, uma das favoritas era a b-girl Maia, bi-campeã nacional do Red Bull BC One, que vai disputar a Last Chance Cypher, para garantir uma vaga na Final Mundial do torneio em dezembro. Mas como diz o ditado, o jogo é jogado. Antes de iniciar as disputas finais, ela estava confiante na conquista. Assim como ela, Nathana tinha a mesma visão. Venceu os dois rounds e foi para a final com a colombiana Celestia, a campeã feminina.
Para além do preparo físico, antes de pisar no tablado o b-boy e a b-girl tem que preparar a mente. Esse quesito essencial pode impactar a performance, positiva ou negativamente. “É muito louco, porque a cabeça conduz muito um tipo de competição como essa, que está num alto nível, inclusive”, observa Maia. “Pra mim é como se eu fosse entrar num show mesmo…. e preparo minha cabeça como se eu fosse fazer uma apresentação no palco. Cada pessoa que vai estar em volta é importante. Eu sou um tipo de pessoa que não olha só para o adversário, mas eu gosto de olhar quem está assistindo, trocar com as pessoas que estão em volta”.
Foi possível observar essas trocas e o apoio que os breakers davam um ao outro. A admiração também não faltou. Quem perdia, não deixava se abater. O respeito ao oponente era (é) a primeira entre as 5 regras, que inclui também “não toque no oponente”, “não repita”, “não copie, seja original”e “respeite a decisão dos jurados”. Pelas observações, tudo seguiu conforme o planejado.
Na batalha de grupos, o espectador sentiu-se no cenário do filme “You Got Served” [Entre Nessa Dança], de 2004, uma febre entre os jovens que sonhavam ser dançarinos nos anos 2000. Assim como todos os confrontos, a final fez o público se dividir em quem levaria. Depois de 7 rounds, o The Big Players ft. Allef & Sunni bateu o Rock Ninjaz por 4 a 3. No masculino, a previsão de Pelezinho se concretizou. “O Leony não só tem a chance de ser campeão, mas também de sair do Brasil para o mundo”, disse horas antes das finais iniciarem. “Ele tem bagagem e experiência pra ser o campeão aqui no INSTAX FUJIFILM Undisputed, como no Red Bull BC One”. Dito e feito, Após 3 rounds com Gabriel, o Multicampeão Leony Pinheiro venceu pela segunda vez no campeonato, sendo a primeira com o The Big Players garantindo vaga em Tóquio, no Japão.
“Como eu tenho uma amizade com ele, falei assim: ‘independente de qualquer coisa, essa é tua última chance [de ser campeão mundial], mano. Você não falou pra mim que queria ser campeão dessa parada uma vez?”, afirmou o Pelé do breaking. “Agora chegou a hora dele”.