Nos seus 12 anos dedicados à música, Flavia K sempre teve vontade de fazer as próprias produções. Mas foi postergando por achar que ainda não era o momento certo. Essa barreira começou a ser quebrada depois de participar de todo o processo de desenvolvimento do álbum de estreia dela, “Janelas Imprevisíveis”. “Eu participei muito da produção ao lado do Júlio Mossil, e a partir dali eu me senti segura pra poder produzir”, diz.
A primeira produção que ela assina é “Lua Nova”, feita com a cantora Flora Piquerobí. Na base está um alt R&B marcante, complementado por diferentes sintetizadores. A atmosfera criada se conecta com a proposta da composição, que é interpretada suavemente por elas. Essa união gera sensações distintas em que cada ouvinte terá sua própria experiência. Isso vai depender da sensibilidade e do momento vivenciado.
A delicadeza transmitida na canção também está presente no vídeo dirigido por Rodrigo Pysi. Ele passa pelas quatros estações, mas são as flores da primavera que indicam o caminho. Nele, Piquerobí transforma um trecho da canção em poesia. “Escrevi em um momento em que eu tentava entender o que estava acontecendo com meu corpo. Percebi que era um processo emocional, para além do físico.”, ressalta.
O encontro de Flavia e Flora aconteceu meio que “por acaso”, na internet. Depois de uma aproximação feita pelo Mossil, as artistas estreitaram ainda mais os laços e deram início aos trabalhos. “Eu recebi a letra da Flora em 2020, mas demorei um pouco pra fazer a música. Na parte da composição me inspirei muito em compositores brasileiros… na Joice, no Tom Jobim, Edu Lobo, Dorival Cayme, Marcos Valle”, revela. “Quando eu fui pra parte da produção, eu pensei em novos artistas do neo soul que eu acompanho (Jacob Cooley, Moonchild, Hiatus Kaiyote, Solange). Saiu dessa mistura a composição com referencias de música brasileira e a parte melódica mais voltada para o neo soul”.
Essas influências fazem parte da identidade artística da Flavia K. Na antecessora “Dias Bons (Alright)”, que tem a participação da rapper californiana Ill Camille, ela segue uma vertente soul com linhas mais agudas. Os dois sons fazem parte do próximo álbum da cantora, musicista e agora produtora, programado para 2022. “Vai ter um lado do disco muito brasileiro e um outro lado mais nessa vertente urbana”, ressalta. É nele que a suas habilidades na produção serão exploradas de uma forma mais profunda. Também pode ser uma forma de abrir possibilidades para que outras mulheres que estão produzindo sejam mais evidenciadas na indústria musical brasileira.
“A gente tem aqui no Brasil muitas mulheres produtoras, musicista e arranjadoras incríveis em todos os estilos musicais, mas infelizmente elas não tem tanta visibilidade. Eu acho que o que vai fazer isso mudar é os próprios artistas e músicos começarem a chamar essas mulheres para trabalhar e colocá-las no lugar que elas tem que estar”.