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As origens afegãs do Farhot direcionam os beats intensos de “Kabul Fire Vol. 2”

Tudo o que ele apresenta nos leva a observar um Afeganistão de uma forma diferente daquela que nos é apresentada pelos noticiários.

Nos anos 1980, durante a guerra do Afeganistão e da União Soviética, Farhot fugiu com a família para a Alemanha. Depois de conseguir asilo, o produtor nunca mais voltou para a sua terra natal. Cresceu dividido entre duas culturas, mas dentro de casa as tradições se mantiveram vivas. No Ocidente, ele fez seu nome ecoar pelo mundo.

No Brasil, é bem provável que os ouvintes de rap já tenham sido impactados por suas produções em músicas do Talib Kweli, Isaiah Rashad, Capo, DJ Premier, Nneka e Pete Rock. Apesar de não ser um novato, Farhot tem apenas dois discos autorais: Kabul Fire Vol. 1 (2013) e Kabul Fire Vol. 2 (2021).

No primeiro, há um resgate das origens dele com a fusão de samples de folks tradicionais do Afeganistão com dub e programações eletrônicas ásperas e bem robustas. Já no Volume 2, o nível é elevado. Toda a arquitetura é feita em cima de recortes de documentários afegãos, como “Opium Wars”, de Siddiq Barmak, e “Three Dots”, da diretora Roya Sadat’s.

 

 

O uso de colagens de cantores regionais, camadas spiritual jazz, instrumentos de cordas, tambores e tablas originários da cultura asiática são os elementos mais usados para criação das bases da construção de diferentes texturas sonoras, que dificilmente se encaixará em alguma caixa. Não existem linhas retas. Tem a sujeira do rap underground, com batidas carregadas, trip hop, pitadas crocantes de soul e impecáveis jams orgânicas. É tudo muito intenso. Conceitualmente tem a essência do país da Ásia Meridional: cheio de surpresas, violações e mudanças no ritmo e na atmosfera. JuJu Rogers, Tiggs Da Author e Nneka também fazem suas contribuições.

Apesar de ser majoritamente instrumental, Kabul Fire 2 levanta questões importantes sobre política, usando em “Yak Sher” uma poesia de Ahmad Shah Mahsoud, líder combatente da resistência que ressalta a dignidade do povo afegão, e depressão na poderosa “Feel Ugly”.

Ter demorado quase 10 anos para novamente amplificar a cultura afegã não foi proposital. Nesse tempo, Farhot aprimorou a fórmula para fazer uma entrega impecável. Sem meio termo. “Mostrar sons afegãos é uma maneira de trazer todos nós de volta”, diz ele. O que ele apresenta nos leva a observar um Afeganistão de uma forma diferente daquela que nos é apresentada pelos noticiários.

 

 

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