O Museu de Arte do Rio (MAR)abriu as portas, no dia 29 de setembro, para a exposição “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade”, que vai até agosto de 2024 para mostrar a origem e os desdobramentos sociais e políticos do funk na sociedade, sobretudo para a população periférica.
Logo no início da exposição, o visitante é apresentado a dois vídeos, posicionados um de frente para o outro. Um deles mostra jovens dançando o passinho, em contraste – ou similaridade – com o segundo vídeo de pessoas negras dançando nos carnavais e nos bailes charme de décadas passadas.
Essa dicotomia inicial expressa o tom de toda a exposição: o funk carioca e sua estética são resultado de uma cultura preta iniciada há décadas no Rio de Janeiro. E para que tivéssemos o funk como conhecemos hoje, muitos vieram e lutaram antes.
Com curadoria da Equipe MAR junto a Taísa Machado e Dom Filó, tendo consultoria de Deize Tigrona, Celly IDD, Tamiris Coutinho, Glau Tavares, Sir Dema, GG Albuquerque, Marcelo B Groove, Leo Moraes e Zulu TR, a exposição é dividida em duas partes: a primeira conta a história do Movimento Black Rio dos anos 70, incluindo um documentário narrado pelo Dom Filó, peça fundamental do movimento.
Temos também acesso a dezenas de discos da soul music, fotos de bailes, de protestos, tudo que remonta e nos traz a dimensão do quanto a música black, ainda muito inspirada nos EUA, nos levou a uma grande revolução de como o negro se enxergava na sociedade brasileira do século XX..
Já na segunda metade da exposição, vemos os desdobramentos da cultura urbana e do funk na autoestima e nas vivências dos jovens atualmente, toda essa ideia representada por artes visuais contemporâneas, para as quais o funk é uma referência. Nessa parte, a mostra faz menção também ao brega funk, gênero que une o brega e eletrobrega de Recife com o funk carioca.
Cada obra, cada comentário, foi perfeitamente encaixado para contar uma história. A faixa com a inscrição “Existe vida do outro lado do túnel”, posicionada na passagem da sala 1 para a sala 2, faz alusão à divisão geográfica entre a parte rica e a parte pobre da cidade do Rio. Sacadas como essa podem ser vistas em toda a exposição e cada detalhe importa.
Não posso deixar de mencionar o pano de fundo da exposição, que nos traz a magia dos ritmos afro-brasileiros de terreiro como fio condutor, uma espécie de narrador de toda essa história. E claro, o visitante percorre os corredores ao som de muito funk de ontem e de hoje. Eterno.
FOTOS DA EXPOSIÇÃO