“Eu cansei de ver gente falando que o meu semblante está de depressivo, que eu vou me matar, que eu preciso de ajuda, que eu virei um merda, que eu virei um lixo. Eu sei que tem gente que me manda mensagem positiva ainda falando que eu sou um bom menino e tal, mas não tem como ser um bom menino mais”. Foi assim que Eddy Jr. começou um vídeo sensível, que viralizou na madrugada do dia 28 de novembro. “Eu não sinto mais vontade de fazer as pessoas sorrirem. Eu não penso coisa boa, só passa pensamento ruim na minha cabeça, então é impossível continuar sendo um menino bom. Como uma pessoa boa consegue ter os pensamentos que eu tenho 24 horas por dia? Esse menino bom que vocês tanto gostavam […], esse menino realmente morreu”.
O suposto pedido de socorro, chamou a atenção, gerou gatilhos e preocupou quem acompanha o humorista, que conquistou mais de 1 milhão de seguidores com conteúdos em que fala palavras erradas . Porém, o propósito do vídeo era anunciar sua mudança artística. “Me perdoem por fazer vocês sentirem o que você sentiram hoje, mas por um longo tempo, esse era o único sentimento que existia dentro de mim, isso era tudo que se passava na minha mente, e mesmo assim eu continuei firme aqui produzindo e fazendo humor pra vocês”, escreveu ele horas depois. “Quando enfim me curei disso tudo, decidi transformar toda minha dor em Arte, morre um “bom menino” mas nasce o álbum BOM MOÇO”.
Com um tom sensacionalista, a forma de promoção utilizada serviu ao menos para levantar a questão da saúde mental. O racismo também fez parte da pauta, mas depois que a poeira baixou poucos fizeram o adendo de que o depoimento se tratava de algo relacionado a uma ação de marketing. Por se incomodar com a estratégia usada, fui conversar com Eddy para entender o objetivo de tudo. Ao perguntar se era um bom moço de fato, ele me responde que bom é só Deus. “Para algumas pessoas eu sou bom moço, mano. Para outras, nem um pouquinho”, ressalta, explicando que essa pose de menino bom começou a ser desconsiderada quando deixou de fazer conteúdos para o público gospel.
OFF
“DESDE QUE ME CONHEÇO POR GENTE, EU TÔ ENVOLVIDO NA MÚSICA. SEMPRE FUI APAIXONADO POR MÚSICA, POR COMPOR, POR TOCAR. JÁ FIZ MÚSICA PRA MINHA MÃE E PRAS MINHAS IRMÃS”.
“Na igreja, eu sempre tive essa imagem”, diz. “Minha mãe sempre falava assim: o Junior é um bom menino. Ela sempre gostava de falar isso. Então, quando mudei, eu comecei a pensar no meu álbum. Pensei no nome “Bom Moço”, e na arte da capa, porque tinha acabado com a imagem daquele menino. Para mim ele tinha morrido, então fiz o ‘velório’ dele”.
Para quem conheceu Eddy Jr. a partir dos seus virais, talvez tenha estranhado a sua decisão de deixar o humor para focar no trap. Mas antes dos vídeos humorísticos, ele já era músico. “Eu entrei para o Conservatório Municipal de música com 8 anos”, relembra. “Quando chegou a primeira bateria na igreja, eu me interessei em tocar”. Suas principais influências estavam dentro de casa. “Todas minhas irmãs são musicistas. Então, quando eu comecei a estudar música, as cinco já estudavam no conservatório”. Depois que começou a tocar, o agora trapper se destacou e recebeu convites para acompanhar artistas do gospel. Entre 2017 e 2019 fez participações no canal do Paxtorzão, onde iniciou seus trabalhos na internet. Quando resolveu investir na carreira de humorista, se desvinculou de todos aqueles com quem tocava. “Mandei mensagem falando: não vou mais ser músico. Falei com a minha família também que já não estava mais a fim de ir pra igreja”, observa. “E aí, minha vida na internet começou novamente em 2021 nos vídeos que viralizaram”.
Agora, Eddy faz o caminho inverso. O humor não é algo que o deixa tão feliz quanto antes. Por isso, decidiu matar essa persona para dar lugar ao músico que sempre ficou em segundo plano ou a serviço de terceiros. Mas a execução desse plano tinha que ser feita sem brincadeiras. “Eu sabia que não podia brincar com a minha morte, no sentido de fingir que morri”, reflete. “Então, entrei em 2024 pensando em acabar com a minha imagem”. Isso não quer dizer que o que disse no vídeo não tenha acontecido com ele antes de começar a criar o álbum. “Em 2022 e 2023, eu estava, tipo assim, muito mal. Não conseguia mais fazer vídeo, não queria mais fazer isso, mas continuava no humor. Então, tem uma história toda aí. Quando me curei, decidi fazer o disco”. Ele revela que pensou em fazer um vídeo que refletisse a realidade, porque na internet uma pessoa teria a capacidade de matar outra sem pensar duas vezes. .
“Alguns entenderam a mensagem, outros levaram para o outro lado, tipo… como se eu, de fato, tivesse tentando me matar, uma parada assim”, ressalta. “Quando eu decidi parar com o humor eu falei: preciso secar essa fonte e focar no que eu quero porque senão vou ficar cada vez maior no humor e vai ficar cada vez mais difícil virar essa chave”.
Parte da genética de Eddy, o humor está sempre presente. Você já espera que em algum momento uma palavra sem nexo surgirá. Mas esse é apenas um estereótipo criado a partir de um personagem. Ele abraçou de vez o trap e quer levá-lo daqui para frente. “Eu já estava decidido a parar com o humor e ir para o trap de vez, ir para a música de vez”, afirma. “Só que sabia que eu precisava entrar direito, porque eu era humorista, e não queria parecer um influencer que estava querendo fazer música, porque eu já faço música há muito tempo, só que eu fiquei conhecido no humor. Então eu sabia que eu precisava chegar direito, com nome, com postura”.
Antes de sair definitivamente, o ex-humorista protagonizará uma série (de humor) da TNT (Warner e Max). O papel veio, mesmo ele não querendo fazer. “Quando chegou o convite pra mim, neguei duas vezes. Falei: não quero, não quero, não quero. E aí, ficaram insistindo pra eu fazer o teste. Fiz e passei”. Intitulado “Clube Spelunca”, a sitcom de 10 episódios será seu último grande trabalho com teor humorístico. O enredo narra a história de uma família preta da Zona Leste (ZL) de São Paulo, que tem um clube de dança. Ele fará o papel de Digão, um jovem que largou a família para tentar a vida como empreendedor, mas que teve que voltar para a ZL depois que seus projetos fracassaram.
“Ela se inicia comigo voltando pra quebrada”, diz. “E aí, quando eu chego em casa, minha avó está com o clube parado, minha mãe foi embora e aí está morando minha avó, meu avô, meu pai, minha irmã, minha outra irmã e meu sobrinho. Aí, o personagem volta querendo fazer o Clube dar certo. A série tem direção de Silvio Guindane e a presença de Neusa Borges, Antônio Pitanga, Leilah Moreno, Neusa Borges, Larissa Nunes, Paulo Américo, Thayna Rodrigues e Agyei Augusto.
No seu futuro musical, Eddy Jr. pretende firmar seu nome no trap. Também vai convidar amigos para gravar uma jam session orgânica do álbum. Vai aproveitar seus aprendizados na produção para fazer cada vez mais músicas, aparecer mais na internet para mostrar suas facetas musicais e subir nos palcos. “Meu sonho é fazer show. A Negra Li me convidou pra cantar com ela. Aí, eu fui lá e cantei duas músicas desse álbum. Foi o meu primeiro show de música cantando… toda vez que eu entrava no palco de stand-up, eu ficava: pô mano, se aqui fosse um show de música ia pirar mais ainda. Essa é a próxima meta”.