As células rítmicas do rap, e da grande maioria dos gêneros musicais contemporâneos, do jazz ao rock, foram desenvolvidas na África. A base de tudo está no toque dos tambores. Sendo um estudioso e praticante, Dr. Drumah (a.k.a do baterista baiano Jorge Dubman) conhece muito bem o poder das batidas. O reflexo disso está na beat tape “The Confinement Vol. 1: Africa”. Ele já tinha planos de fazê-la, mas sem previsão. Mas o isolamento social o fez dedicar tempo ao projeto.
“Há um tempo atrás comecei a pesquisar samples de música africana e suas claves rítmicas para saber como aplicar nos beats de hip hop”, diz ele. “Alguns ritmos da África não são padrão, tipo 4/4 como no rap, então mergulhei nesse estudo para deixar os dois ritmos equilibrados na medida do possível. Com a pandemia e o confinamento, aproveitei o tempo para realizar esse trabalho”.
Os samples foram escolhidos a dedo. Mas como todo beatmaker, Dr. Drumah faz mistério. Prefere que os ouvintes descubram por si só. Tudo está muito bem equilibrado, seja nos grooves mais pegados ou nas baladas leves. Os timbres africanos estão bem sincronizados com os loops e beats digitais. A fórmula foi encontrada. Tem uma textura afro-futurística, mas deixa bem evidente a identidade de ritmos nativos da Nigéria, Benin, Etiópia, Burkina Fasso e Gana.
“Alguns desses samples eu já tinha marcado para usar, mas a maioria foi no processo do disco. Colocava os discos e ia absorvendo e sacando algumas brechas que podiam ser aproveitadas. Afrobeat e afrofunk são gêneros com forte polirritmia, e muitas vezes achar esse espaço pro sample se torna quase impossível”.
Das oito tracks, que totalizam 20 minutos, duas tem a participação do australiano Liam Monkhouse AKA Mista Monk, MC da Black Jesus Experience, banda de Ethio Jazz de Melbourne que gravou e acompanha o Mulatu Astatke. E da cantora Stina Sia, que faz a locução dos skits do início e final do disco.
“The Confinement Vol. 1″ é mais uma aula ministrada por Dr. Drumah. E essa é apenas a primeira conexão das raízes com a contemporaneidade da musicalidade africana.
*Foto: Glauco Neves
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