Os DJs (Disc-Joqueis) sempre foram responsáveis por surpreender os ouvintes com as novidades musicais. Isso aconteceu primeiro nas rádios, e depois nas pistas de dança. Os seletores jamaicanos podem ser considerados os precursores com seus sistemas de som. Eles foram as principais referências para os DJs de Nova York, que foram os arquitetos do movimento Hip Hop: Kool Herk, Afrika Bambaataa, Grand Wizzard Theodore, Grandmaster Flash. Podemos considerar que o DJ faz parte da base, pois os demais elementos (o rap, breakdance e o graffiti) surgiram a partir das técnicas dele de criar batidas a partir de loops criados com pequenos recortes de trechos de música feitos em vinil.
Apesar de ser conhecida, a história precisa ser revisitada de tempos em tempos. Mesmo na era da informação, a desinformação permanece em alta. Observando isso, o DJ Deco “Groove a Quilo” e Ana Sthel (batuqueira e educadora musical) decidiram produzir o documentário “O DeeJay no Movimento Hip Hop: O toca-discos como instrumento musical”. O objetivo é mostrar a importância do DJ no Hip Hop, como o toca-discos (apesar de muita discordância ao longo dos anos) se tornou um instrumento musical e o comandante das pick-ups um músico, de fato.
“Tem vários documentários sobre DJ, mas a gente queria trazer para esse lado, digamos, mais didático… o lance de mostrar que o aparelho virou um instrumento”, diz. “Foram os DJs desse movimento que começaram a desenvolver técnicas de manipulação desse disco que era reproduzido nesse equipamento. Nossa ideia foi defender e fomentar essa teoria que o toca-disco é um instrumento musical assim como qualquer outro. Como o Rodrigo brandão fala, todo DJ é um percussionista… tem ritmo, né!? E hoje em dia com a tecnologia, e antes dela, os DJs podem executar linha melódicas também”.
Para desenvolver o projeto, Deco (a.k.a André Luis), que é formado em Licenciatura em Música pela Universidade do Vale do Itajai, professor no ensino básico desde 2014, beatmaker (Coletor de Amostras) e MC (Sopro Inverso), recorreu ao financiamento da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc do município de Itajaí, SC, por não poder discotecar.
“A gente quis mostrar alguns lugares históricos e alguns lugares que são relevantes pra música em Itajaí. A gente gravou na Casa de Cultura, lugares turísticos, o Porto. Também tivemos cenas gravadas em São Paulo e Campinas. Usamos esses lugares pra também fazer uma analogia com os diálogos que falam da tecnologia e da coisa antiga, trata quando a guitarra chegou no Brasil e gerou toda aquela polêmica. A gente também traça um paralelo com os DJs chegando nas bandas como instrumentista”.
A produção foi feita durante a pandemia entre o final de 2020 e o começo de 2021. Por fazer parte de um edital, o filme tinha prazo de entrega. Então, a equipe teve de se adaptar ao momento para não atrasar. Os planos foram mudados algumas vezes. Até lockdown eles enfrentaram durante o processo de captação. O DOC tem uma narrativa que guia o expectador na história. Ela é complementada com imagens de arquivos, captações e a participação de convidados que exerce a profissão de DJ ou em algum momento se conectou com ele [a grande maioria deles gravaram em suas casas por celular. Marcam presença o Dj Duh, DJ Erick Jay, Rodrigo Brandão, Riva Rock, DJ PG, Mauricio Cajueiro, Ding Dong, Giana Cervi, Chico Preto, Sete Bass, Rodrigo Paiva, Branco MadKilla, Paulo Microfonia e Marcelo Modesto. O roteiro também foi muito bem amarrado para que qualquer pessoa (leiga ou não no assunto) entenda de forma clara.
“Tudo vem da nossa vivência no Hip Hop, também de tudo que a gente assistiu e de tudo que a gente leu. Mas a preocupação foi como falar disso, do DJ especificamente, de uma forma que não entre muito na história do Hip Hop, mas tinha que ser falado para contextualizar… porque já tem muito material sobre isso e a gente queria dar um foco no DJ. Ia ser um mini-doc de 15 minutos e acabou em 45 minutos. Então, a preocupação é de falar de uma maneira simples para que qualquer pessoa absorva e até um instrumentista formal fique admirado com as várias possibilidades”.
No geral, “O DeeJay no Movimento Hip Hop” dá uma ampla visão do que ser DJ. É com certeza mais que apertar um botão para tocar músicas. O oficio de DJ tem sido cada vez mais importante e continua evoluindo. Não está morto como dizem [da mesma forma que b.boys e grafiteiros continuam mais vivos do que nunca]. O audiovisual contribui com o conhecimento [o sexto elemento do Hip Hop]. Os temas levantados pode abrir a possibilidade de um maior entendimento do que de fato é ser Disc-Jóquei, Turntablist, Seletor. Um ponto de atenção está na ausência de representantes DJs femininas – apesar de ter outras mulheres marcando presença.
“O DJ não só tá muito vivo e atuante, como ele tá evoluindo constantemente… ele não parou e não é aquilo ali só. Ele vai continuar, e continuar, e continuar”.