“Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”. A afirmação de Augusto dos Anjos faz parte do soneto “Versos Íntimos”, escrito em 1906 e publicado seis anos depois no livro “Eu”. As poucas palavras do poeta descreve os altos e baixos do ser-humana, que um dia é a caça e no outro se transforma em caçador – vingativo.
Os versos de Augusto dos Anjos inspirou RAPadura a escrever os próprios. O objetivo dele é fazer que as pessoas reflitam sobre a dualidade humana e a decepção nos relacionamentos, a partir de suas próprias experiências. “Eu estava tão sufocado pela intensidade de tudo que precisava vomitar antes que aquilo me matasse e foi assim que renasci, com a luz do som”, revela o rapper cearense.
Diferente dos sons que faz envolvendo o imaginário nordestino, colocando boas doses dos ritmos tradicionais do Norte e do Nordeste, “Versos Íntimos” tem um direcionamento completamente diferente do que se espera do RAPadura. É intimista. Cerebral. Sincero.
“Revelo fatos da minha vida e o quanto é difícil se relacionar com as pessoas, o desequilíbrio e a desproporção dos afetos”, diz RAPadura. “Sinto que estamos desconectados da nossa essência, temos medo de amar e se machucar, quando somos amados não sabemos como reagir por receio de situações ruins já vividas e nos fechamos em crepúsculos. Eu estava tão sufocado pela intensidade de tudo que precisava vomitar antes que aquilo me matasse e foi assim que renasci, com a luz do som”.
O desabafo do RAPadura é acompanhado por um instrumental minimalista assinado pelo DJ Caique. Os beats sincopados, que fazem referência ao baião, com um andamento mais lento, são complementados por linhas de baixo que deixam a sonoridade mais intensa.
“O som é diferente do que a gente fez nas outras edições (do projeto Coligações Expressivas), mandei o beat para ele com um sentimento bem forte e ele desabafou sobre a vida dele. Fico feliz por estarem se identificando com meu instrumental”, observa o DJ, que está trabalhando na 5° edição do ‘Coligações Expressivas’, projeto que desde 2005 reúne nomes do rap nacional e lusófono, dando visibilidade ao trabalho de rappers que falam a língua portuguesa em outros países além do Brasil.
Ao todo, o álbum terá cerca de 29 tracks. A previsão é que ele esteja nas ruas ainda neste segundo semestre de 2019.
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