O próprio DJ Anderson do Paraíso parece não acreditar na proporção que as produções dele têm atingido fora do Brasil. “Tá tudo muito inédito pra mim. Porque querendo ou não, eu faço funk pra cá e não tinha pretensão de atingir um público lá fora”, afirma. “Pra mim tá absurdo, porque do nada eu abro o Instagram e tem gringo me chamando, aí eu tenho que ir lá no tradutor pra poder responder… mas estou gostando”.

Essa ascensão internacional se solidificou depois que “Queridão” recebeu nota 7.8 na Pitchfork, por desenvolver uma “versão de funk sombria e minimalista. Na sequência, o álbum foi distribuído na Europa em vinil pela gravadora ugandesa Nyege Nyege Tapes, que logo esgotou seu estoque.

“Eles me chamaram porque já escutavam bastante MU540 e VHOOR, que também tocam minhas músicas lá fora”, ressalta. “Aí, eles me chamaram, disseram que gostaram muito da minha música por fazer esse pique meio sombrio”

Ainda na colheita desses frutos, Anderson não pretendia fazer outro disco tão cedo. Mas caiu na tentação depois de receber convites de vários artistas para produzir. “Aí, do nada, fiz “Madrugada Fria”, diz. “Depois dela me veio a cabeça pra começar a fazer outras músicas, juntar tudo e fazer alguma coisa pra liberar pra galera”. Assim, nasceram as 8 músicas de “Paraíso Sombrio”, que inicialmente seriam 5.

Diferente do anterior, que compila diversos singles, este é composto apenas por inéditas interpretadas por Mc Rodrigo do CN, Mc Menor Thalis, MC Code, Sarah Guedes, MC Paulin do G, Mc Danone, Mc Fi do Homi, DJ Lucas do Taquaril, Mc Mininin, Mc Gordinho do Catarina, Os Gêmeos da Putaria, Mc Lisa, MC JF, Dj Vitin do Pc, MC Pânico, mc Magrinho e MC Myres. A estética mantém a fusão de batidas de funk com elementos alternativos e clássicos, de violinos e flautas, a barulhos de corvo, sinos e trechos sampleadas de filmes de terror. Essa mescla forma a característica musical do DJ mineiro.

“O que acontece… eu sempre gostei bastante de escutar algumas orquestras sinfônicas, tá ligado? Aí, fui pegando mais ou menos a base disso. Eu gostava também de escutar alguns violinos”, observa. “Eu escutava esses violinos, fazia alguns beat e colocava esses instrumentos nele e dava certo. Então, o pessoal foi gostando desse meu ritmo”.

OFF
“O RITMO DO FUNK É GOSTOSO DE SE OUVIR. SE TIRAR AS LETRAS, OS INSTRUMENTAIS TAMBÉM SÃO DAORA”.

Antes de começar uma produção, ele prefere receber a voz primeiro. Ela serve como guia para que a inspiração apareça e diga qual caminho deve seguir. “Vai de acordo com o que vai me inspirar naquele dia, somente isso. Se eu tipo quiser um som de corvo, aí eu pego um elemento, vou no Youtube pra ver se encontro alguma coisa maneira e coloco”.

De poucas palavras, o DJ Anderson do Paraíso fala via Zoom que começou a produzir em 2012 por influência da própria família que já gostava de escutar funk. A curiosidade também o ajudou a experimentar. Começou a editar músicas de outros artistas, que compartilhava no Youtube. Dessa forma, fez seu nome em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde ele diz ter um funk mais tranquilo e dançante, oposto ao do Rio de Janeiro que é “mais corrido”.

Observando além do que seus olhos estão enxergando, Paraíso já tem uma ideia de quais serão os próximos passos dele: tocar no exterior e misturar funk com drill. O segundo plano está sendo executado aos poucos em discotecagens, e o público tem aprovado. “Isso vai me abrir muitas portas pra eu fazer trampos na gringa”, afirma. “Eu também estou conversando com o produtor que fazia os sons do Pop Smoke, o 808Melo (MELO 3000). Nós já estamos conversando pra fazer alguns feats”.