Pouca coisa mudou, quase 30 anos depois dos Racionais MC’s denunciar o racismo e a violência policial contra os moradores de periferia, e enaltecer o movimento negro na contestadora “Voz Ativa”. Na realidade, algumas questões até pioraram. É o que mostra Dexter na releitura desse clássico da música brasileira, influenciado por textos do Malcom X. (“Voz aAtiva também foi usada como referência pelo Marcelo D2 em “Qual é?”. Esse uso “não autorizado” virou alvo de polêmicas e cobranças).

“Essa música retrata tudo o que aconteceu em 1992 e agora está acontecendo de novo. Mas que na verdade, sempre aconteceu também”, diz o Oitavo Anjo, que é complementado por Mano Brown: “Já era esse racismo institucionalizado que tem hoje. Tinha gente que defendia que não tinha racismo, que aqui era o país da miscigenação, da cordialidade das raças. Nesse clima eu fiz a música. A letra sou eu conversando com Malcom X no livro, dizendo que aqui no Brasil as coisas estavam do mesmo jeito, mas que agora o negro tinha voz ativa e disposição de lutar”.

A versão 20/20 tem batidas do KL Jay e Dj Will, e a participação do Djonga e Coruja BC1. Essa colaboração abre uma oportunidade para muitos jovens e adolescentes serem impactados por uma das composições mais contundentes dos Racionais, presente no disco “Escolha o Seu Caminho”. “Não podia fazer isso sozinho”, afirma Dexter. “Me preocupo muito com o futuro, com o que está acontecendo com aquilo que veio da periferia e é nosso. Isso me despertou o interesse em resgatar algo do passado que pudesse conversar com as pessoas sobre a responsabilidade de ser e fazer”.

Assim como na original, os instrumentais possuem referências do funk oitentista. Nas rimas, Dexter continua na sua melhor fase; Djonga segue o direcionamento não deixando que a cadência desande; já o Coruja BC1 coloca mais “agressividade”, destoa dos demais, mas é sua conhecida forma de interpretação.

O videoclipe, dirigido por João Wainer, Mailson Soares e Ricardo Souza, teve captações feitas na Favela da Felicidade, no jardim São Luiz, extremo Sul da cidade de São Paulo. O visual também faz um resgate do clima das produções de rap dos anos de 1990, mas com efeitos e imagens de diversos protestos contra atos racistas ao redor do mundo. Apesar de marcar presença no filme, Mano Brown não solta a voz.

“Desde a criação do código penal, em 1890, no Brasil foi tudo dividido entre a burguesia e os pobres, que eram os pretos. E nunca mudou”, observa KL Jay. “A música Voz Ativa é o nosso olhar sobre a vida dos negros no país”.

*Fotos: Leonardo Muniz

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