Quando eu tive a ideia de escrever este artigo, lembrei da pessoa da qual mais conversava sobre futebol: meu ex-namorado Eliakim. Esta pauta era tão recorrente em nossas vidas que, no dia em que nos beijamos pela primeira vez, eu estava vestindo a 2017/2018 do PSG – mesma camiseta que foi o meu primeiro assunto com Pedro, diretor do Rapresentando. Essa conversa sobre minha vestimenta ocorreu no meu aniversário. Enquanto a maioria trajava vestidos e saias curtas, eu estava com um jeans largo e rasgado e a peita. A partir desse diálogo, houve o convite para que eu escrevesse aqui no site. Uma das nossas ideias era conseguir abordar de modo bem amplo a cultura hip hop, falando, inclusive, de moda. E cá estou eu, discorrendo sobre o assunto e pensando, ao mesmo tempo, qual será o próximo clube cuja camisa vou adquirir.
Dentro do universo do rap, há uma forte relação com o esporte. Jay Z já dizia: “I made the Yankee hat more famous then a Yankee can”. E é fato que você já viu esse boné naqueles DVDs de clipes com os greatest hits do hip hop anos 90 ou na MTV. Os ditos kits esportivos presentes nas quadras e palcos foram parar direto nas ruas. E quer fonte mais precisa para propor tendências no zeigest destes tempos do que o streetwear? Cada vez mais vemos as passarelas dialogando diretamente com a influência da rua. Sam Handy, diretor criativo da Adidas Football, afirmou em entrevista que “street culture e futebol são muito similares: ambos são sobre coletividade, ser um time, apoiar um ao outro e tentar progredir. Não existe razão para o esporte e a moda de rua não se misturarem. Nós temos visto isto sendo feito por anos e, com a moda de rua tendo tamanha influência na cultura em geral, é hora de marcas de esporte continuarem a impulsionar isso e levar para mais direções.”
Quando criança, eu já sabia que era colorada. Meus olhos brilhavam pela Adidas 1997, da qual tenho até hoje. Mas foi na última Copa do Mundo que suscitou todo esse interesse: o uniforme nigeriano, aquele mesmo, esgotado em minutos, reafirmou em mim essa paixão antiga: camisas de time. Representar uma nação, uma cidade, identidade, costumes. Pensar em aspectos de uma cultura para traduzir na vestimenta. Todos estes cuidados começaram a despertar minha atenção a ponto de querer incorporá-los no meu vestuário.
Quando se trata de vestir as peças, eu gosto muito da proposta hi-low, que consiste em misturar propostas até então lidas como contrastantes, como misturar o formal com o informal, itens mais sofisticados com o toque casual da camisa. Moda é uma questão de se conhecer – entender seu corpo, seu gosto, a paleta de cores que você se sente bem. Mais do que pode ou não pode, isso é sobre experimentar coisas novas.
Na última semana, caracterizada pelo dia internacional da mulher, houve um marco muito significativo no que se refere à avanços por igualdade: a Nike lançou pela primeira vez na história uniformes de seleções feitos especialmente para mulheres, para a Copa do Mundo Feminina de 2019, que ocorrerá na França. Anteriormente, as camisas eram somente uma extensão dos modelos masculinos. Isso é bem mais do que roupa: é simbolismo de um protagonismo necessário. Não fomos feitas para ficarmos escondidas atrás de homens. Esse esporte também é nosso, ele também deve ser pensado por e para nós.
Futebol representa hoje, além de entretenimento, mais uma forma de comunicar culturas, dialogar diferenças e celebrar diversidade. Uma linguagem que ultrapassa barreiras, valoriza talentos e representa um dos maiores impulsionadores de superação na vida de milhares de jovens pelo mundo. Como qualquer esfera da sociedade, também expõe e denuncia muitos comportamentos retrógrados e discriminatórios, mas justamente por se tratar-se de uma linguagem acessível, deve contar com o posicionamento dos clubes, campanhas e demais ações para ajudar na manutenção por mais consciência – dentro e fora dos estádios.
Indicamos também: Emitresde mostra as peças da coleção “Volume-19”. Leia aqui.