Enquanto o salão térreo da Matilha Cultural, em São Paulo, era tomado por fãs, convidados e artistas, dos quais estavam Bivolt, Dudu, Hodari, Luccas Carlos, Drika Barbosa e o atleta Paulo André, no andar de cima Budah falava com jornalistas sobre o seu primeiro álbum, “Púrpura”. Assim como o título, que considera ser um sinônimo chique para roxo, a cantora estava com um casaco preto aveludado – o qual tirava de vez em quando por causa do calor -, cobrindo um segunda pele preto transparente, boina roxa clara, sempre ajeitada por uma assistente, meia calça transparente e saia, ambas também roxa, mas de tonalidade mais escura. Ela é simpática a todo momento. Sorri, porém não esconde o nervosismo e a ansiedade de mostrar seu “filho” ao mundo.
“Eu realmente coloquei nesse álbum tudo o que gostaria de fazer e que mostrasse pra galera o que eu faço”, diz. “Porque às vezes você lança um rap, sei lá, minha primeira música foi um rap, então todos acham que você vai fazer isso sempre, né?”
Tudo que Budah não quer é ser rotulada. Pretende ir além dos limites e das caixinhas que tentam colocá-la. Por dominar a arte das rimas, perguntei se ela tinha planos para fazer algum projeto de rap futuramente. “Não sei, eu não me prendo a essas possibilidades”, respondeu, observando que para que isso aconteça o feeling precisa estar alinhado. Dessa forma, se achar que é o momento de rimar, vai rimar, se achar que tem que cantar, vai cantar. Por outro lado, não exclui a possibilidade. “Jamais. Eu não descarto nada. Um dos meus sonhos é fazer um álbum de pagode, por exemplo. Eu amo pagode”, afirma. “É algo que eu quero fazer pra minha vida. Então eu não descarto nenhuma possibilidade”.
Sem acelerar o processo, Budah relembra um ano e meio atrás quando fez “Linha de Frente”, a primeira música que escolheu para compor o disco. Logo em seguida, viveu um período complicado. “Foi bem difícil, psicologicamente”, ressalta. “Eu estava bem depressiva e não conseguia entregar coisas”. Ela precisava finalizar o projeto, mas não conseguia criar. Ia ao estúdio, e a criatividade não aparecia. E por não conseguir escrever, ficava chateada, chorava e voltava para casa. “Enfim, uma época muito ruim”. Com o objetivo de destravar as ideias, a saída encontrada foi fazer um camping de composição, em Vila Velha, no Espírito Santo.
“Foi a primeira experiência de deixar alguém escrever pra mim, e foi muito legal. Eu gostei muito de tudo que aconteceu. Eu chamei o Chris MC, o KIAZ, a Bivolt e o Dudu para me ajudarem nessa missão de escrita. Então foi muito fácil, porque eles escrevem muito bem, eu amo a escrita deles”, revela. “Foi bem bonito quando eu senti que o álbum estava pronto. Tinha chegado no auge, porque 15 faixas são muitas faixas. Então, praticamente fiz metade sozinha e a outra metade no camping. Mas, poxa, é muito compensador você ver tudo acontecendo assim, e as coisas que são realizadas depois disso, né? Você entrega e fala: caramba, toma, é pro mundo, é de vocês, eu fiz especialmente pros meus fãs, assim, eles mereciam isso, sabe?”.
OFF
“Estou no melhor momento da minha vida, tanto musicalmente quanto de cabeça, mentalmente, psicologicamente, enfim, todos os mentes possíveis”.
Quando “Linha de Frente” na Matilha completamente lotada, geral chegou junto. Stefany, irmã da Budah, chorava copiosamente de emoção. Os fãs cantavam, enquanto a artista se divertia ao lado de Paulo, seu A&R, e o DJ Cia. Alguém trouxe um bouquet de rosas brancas, acompanhadas de flores roxas, para combinar com o momento. Mas não só por isso. O roxo é a cor preferida da cantora, e sua intenção era inseri-la para marcar o trabalho de alguma forma. “Eu precisava de um nome bonito, porque não gostava de como soava a palavra roxo. Lilás era bonito, mas aí ficava sempre lembrando da música do Djavan [risadas]. Aí, lembrei que púrpura existe, que é um nome marcante pra roxo. O mais legal é que depois da a escolha descobri várias curiosidades que casavam com o que estava propondo”.
Somado à palavra amor, o roxo representa quem está com grande interesse em alguém, apaixonado ou apaixonada. Diretamente, reflete o tema base abordado ao longo dos 42 minutos e 57 segundos: as relações amorosas. “Eu falo das várias formas de amor… sendo mais desapegado, a fé no amor, sobre autocuidado, que é esse amor próprio que a gente tem que ter pela gente, as batalhas que a gente enfrenta e tem o amor romântico, obviamente… aquela coisa mais melosa”. Segue as diversas facetas do amor, que possui várias camadas. “Tem uma música que tem muito ódio, mas talvez isso não transpareça para as pessoas, mas pra mim, quando eu escrevi, tinha um significado de tristeza, assim, né?”, revela. “Eu falo de amor, mas é um amor mais pesado, que você sofreu e tudo mais. Que é uma coisa muito pessoal minha que eu quis compartillhar”.
INDICAÇÃO AO BET AWARDS E A MÚSICA PREFERIDA
Foi durante a passagem de som para um show no Rio de Janeiro que Budah recebeu a notícia da sua indicação ao BET Awards. “Do nada eles me entregaram um envelope com uma flor”. Ela não teve reação. Também não acreditou. Ficou sem palavras. “Eu sempre gostei desse mundo da indústria da música, sempre achei tudo muito legal e gostava de assistir as apresentações e tudo mais. Como naqueles DVDs do hip-hop que a gente comprava tinha várias apresentações do BET Awards, eu sei da importância da premiação”, diz. “Sair de onde eu vim, que é do Espírito Santo, pra um rolê desse, tipo, ser vista numa parada internacional é surreal pra mim. Sou muito abençoada, muito agradecida”.
Ser indicada à principal premiação da música negra estadunidense, justamente no ano que lança o seu álbum de estreia e completa 7 anos de caminhada na música, é uma confirmação. Mais de uma vez, ela diz sentir-se insegura no trabalho que faz, porque o R&B no Brasil não é um gênero tão valorizado. “Lá fora, você vê os artistas de R&B super estourados e vivendo disso pra caramba, aqui ainda é um pouco fraco, mas eu acredito muito”, afirma. “É um tipo de música muito bom, e eu acredito muito que as pessoas ainda vão olhar com mais carinho”. Mesmo roubando a atenção quando rima, Budah deixou o rap um pouco de lado em “Púrpura”. O objetivo dela é cantar para evidenciar o Rhythm and Blues.
“Tem eu rimando no R&B, falando coisinhas gostosinhas. Mas é isso, eu também gosto muito de cantar, cara. Quando eu escuto um beat, eu já me imagino cantando algo em cima dele. Mas ainda quero explorar muito esse rolê da rima, porque eu participei do Poetisas (no Topo) e no álbum do TZ (da Coronel) também, onde eu vim rimando e gostei muito. Foi uma experiência muito legal”.
Se fosse para escolher uma música para definir o disco, ela seria “Púrpura” (obviamente), na visão de Budah. Agora, a preferida dela é “Não Adianta Me Ligar”, que faz parceria com a MC Luanna. O motivo da sua escolha está na abordagem do empoderamento das mulheres. “Tipo: você que tá no controle da situação, não esse bofe feio que você pega, que você dá atenção, sabe? Você sempre está no controle da situação e a gente fala isso para as meninas”. É esse tipo de mensagem que ambas artistas pretendem compartilhar para aquelas que se espelham nelas. “As meninas também merecem ouvir um conselho desse, sabe? As letras do álbum no geral é também pra gente refletir”.