por Lucas Silva
Depois de tanto tempo longe do abraço de um texto, parece que as ideias se escondem entre as abas da internet. É preciso ter calma, enxergar e pensar para poder encontrar algo a muito esquecido: o desejo de escrever, o simples tesão de largar o dedo, independente se haverá ou não alguém reservando seu tempo para ler.
Eis aqui o registro de um amante dos ritmos, poesias e da mistura incrível que isso faz na boca do estômago, na linha dos braços e nas veias do coração: escutar RAP vai muito além da canção, atravessa as grades do rádio, leva a mensagem ao pai e ao filho e firma uma mensagem dita por Leal: “RAP é ritmo e poesia, eu não sei o que tem a ver com pagar de malandro“. Minha primeira lembrança do RAP é incerta, mas acredito que tudo começou no “Espaço RAP 1”, devorava aquele vídeo e sentia a lambida na ferida, as histórias estavam sempre despidas e o alcance do som era do caralho. Assim como vinho, escutar alguns clássicos refrescava o âmago, cada gole uma sensação diferente, uma lembrança, uma época e quase sempre uma dose errada de saudade.
O RAP é a elasticidade da música, descansa no ouvido, derrama no coração e agita o quadril. Numa letra, amar e odiar é tão simples como a criação de um ritmo nos discos por KL Jay.
O RAP é a força de um MC para um público de 5, o Pânico na Zona Sul. É a blitz feita pelos alunos contra um ensino meia-boca. A velha escola com Facção, Consciência, Sistema Negro e inúmeros outros está aí para quem quiser ver o lado cru e sincero visto numa ótica mais fria, e para quem julga a nova geração eu apenas peço: PARE. A roupa de um homem, tatuagens pelo corpo e adereços não o impedem de levar a palavra. Djonga é tão cruel como Eduardo e também tão talentoso, traz a música carregada de referências e atinge com força o rosto sem guarda.
Esse texto poderia ter mil linhas, entre os MC’s mil rinhas, aqui caberia BK, Xamã e vários MC’s que batalham e ainda não compõe, e aqui cabe novamente: o RAP vai além da canção, vira cor num muro cinza, inspiração num sarau de bairro e um caminhão de coisas, em todo lugar que cabe luz, cabe RAP. O RAP é minha ida e volta na condução, é o sonho dentro do fone de ouvido e a raiva escondida num refrão. Eu sou RAP até umas horas, e você?